O que procuro em ti, eco ou planície, que não me respondes? Porque devolves apenas a minha voz?

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Leituras #7


Volto de novo à leitura do “Relatório Hite sobre a família” que me tem elucidado em relação aos estranhos comportamentos dos seres humanos. Nesta fotografia de Shere Hite da autoria de Jean Pierre Masclet é possível verificar que a célebre historiadora é uma mulher muito sexy, para além de ser feminista e inteligente. Aqui fica o seu ponto de vista sobre as razões que levam alguns homens a matar o amor:

“ Muitos homens projectam o fim de uma relação amorosa no momento em que tem inicio: parece que não podem imaginar uma relação afectiva e apaixonada com uma mulher que possa durar. Porquê?
Como já tiveram de matar o amor pela sua mãe (como ela matou anteriormente a intimidade física), o homem aprende que o amor é fatídico e está condenado a terminar. Os rapazes aprendem que o amor intenso tem sempre um final, habitualmente trágico, e que são eles quem lhes deve colocar fim. Como já vimos, os homens não colocam o desfecho na relação com as esposas (são as mulheres que habitualmente solicitam os papeis do divórcio), transferem-nas sim para o papel de mães (tenham ou não filhos), mas pelo contrário colocam fim aos seus amores intensos antes de casarem, enquanto estão a decorrer.
Em consequência, o homem projecta o final do amor «romântico» desde o princípio. A frase «Não podes voltar a casa» mostra a negatividade, o cinismo e o pessimismo de muitos homens perante o amor: «Não podes mudar a tua vida privada, a batalha entre os sexos é inevitável, é impossível conceber outro tipo de casamento ou de família», etc.
A tragédia é que… a felicidade «paga-se». Durante os anos quarenta, quase toda a população masculina dos Estados Unidos na idade de se reproduzir foi militar e perdeu a sua individualidade em massa, os filmes e revistas «demonstram os instintos assassinos» dos homens. Para além disso, o governo investiu dinheiro na industria cinematográfica de Hollywood para a produção de filmes que incentivassem os homens a lutar e a exagerar ainda mais a sua distância das mulheres, implantando em maior escala a imagem de que o dever dos homens está à frente do seu amor e da sua família, fixando com firmeza o argumento de amor-paixão-ruptura. Esta generalização «passou» a prejudicial tradição psicológica para os seus filhos, contra a qual tentaram revoltar-se durante os anos sessenta.
Os pais que partiram para a Segunda Guerra Mundial foram talvez também mais violentos com os seus filhos que a geração anterior. Estes pais disciplinados obrigaram os filhos a «abandonar a mãe de uma forma muito mais traumática que antes». Os filhos dessa geração são os homens que hoje dão a cara pelo fundamentalismo dos anos noventa.
Curiosamente, os rapazes que crescem sem pai escapam muitas vezes a este tipo de fim obrigatório.”

In Shere Hite, "Informe Hite sobre la familia", Ed. Paidos, Barcelona y Buenos Aires, 1995, p-249 (tradução caseira)

O contexto histórico-social do nosso país é diferente, tivemos uma ditadura durante quase meio século, a concordata com a igreja católica, a guerra colonial nos anos 60; a revolução chegou tardiamente em 1974, assim como o divórcio e outras mudanças nos costumes da nossa população, as mulheres conquistaram direitos legais que não tinham anteriormente; o país deixou de estar orgulhosamente só ao entrarmos na Europa e Portugal tem muitos elementos próprios para serem estudados. Será que esta herança cultural ainda tem efeito no modo como os homens e as mulheres se relacionam entre si nos nossos dias?

2 comentários:

  1. Não sei se é historiadora, não sei se é feminista, mas chamar-lhe sexy é um eufemismo. (tendo em conta a fotografia, claro)

    ResponderEliminar
  2. Olá Henrique, a Shere Hite também é "sexóloga", sim sexy é metafórico e estou a ver que simpatisas com ela :)nem todas as louras são burras, pá!
    Saúde

    ResponderEliminar