O que procuro em ti, eco ou planície, que não me respondes? Porque devolves apenas a minha voz?

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Leituras #2


Continuo de volta da investigação da Shere Hite sobre a família:

“Nas discussões sobre homens por vezes usa-se a expressão «identidade afectiva», mas quando se fala das mulheres usa-se constantemente. Por acaso os homens não têm identidade emocional? Sim, mas o espectro de emoções assinalado nos homens difere bastante do espectro assinalado nas mulheres. Por exemplo, incentiva-se os homens a «zangarem-se» e a serem «activos», enquanto que as mulheres devem ser «carinhosas» e «passivas».
O treino que seguem para aprender a identidade «masculina» é bastante duro, como manifestam amplamente neste relatório mais adiante, e apaga-lhes o colorido afectivo «natural», todo o seu espectro de sentimentos. Esta «socialização» que lhes é imposta talvez e inclusive seja mais dura e mais mordaz que nas raparigas, porque retira-lhes todas as emoções e marginaliza-os de metade da humanidade. É pior o que sucede às raparigas, ao proibirem-nas de actuarem e zangarem-se? Ambas as situações são terríveis. Mas «pelo menos» às raparigas não se lhes pedem que «abandonem» o seu pai nem que mostrem hostilidade e desprezo por ele, ainda que as pressionem para que sintam esse desprezo pela sua mãe.
Os rapazes que vivem este processo de privação afectiva consideram-no extremamente doloroso, mas mais tarde “esquecem” e admiram o sistema porque o consideram seu, porque os beneficia. No entanto, beneficia-os realmente ou é o sofrimento que lhes custou submeterem-se a ele que os uniu ao sistema?
Frequentemente diz-se que «é a mulher que cria os filhos e se são demasiado ‘machistas’ é culpa dela», mas não é isso que aparece na minha investigação. São as observações e pressões dos outros rapazes e dos homens, inclusive do próprio pai, que durante esses anos os forçam com dor a que «adoptem uma nova forma».

A maioria dos homens e dos rapazes dizem que gozavam com eles (ou eles faziam caso dos outros) com frases como: «Não sejas maricas» ou «És um filho da mamã, vais fazer queixinhas à tua mãe?», e diziam-lhes: «Comporta-te como um homem», «demonstra que és um homem verdadeiro», «O que se passa? Levanta-te e reage como um homem».


In Shere Hite, Informe Hite sobre la familia, Ed. Paidos, Barcelona y Buenos Aires, 1995, p-215 (tradução caseira)

Aqui podem ler a prespectiva da autora sobre a sexualidade masculina num pequeno artigo intitulado The Uncelebrated Beauty of Men's Sexuality, têm de clicar na secção dos artigos do site.

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