Esta carta que Rainer Maria Rilke escreveu a 14 de Maio de 1904 continua de um modo surprendente, porque o autor revela que é um feminista, eu arrisco mesmo a afirmar que estava mais à frente, as suas palavras são pós-feministas:
“As raparigas e as mulheres, na sua evolução, só temporariamente imitarão as modas masculinas, só temporariamente exercerão as profissões dos homens. Logo que acabem estes períodos incertos de transição, ver-se-á que as mulheres se prestaram a estas mascaradas, muitas vezes ridículas, apenas para extirpar da sua natureza as influências deformantes do outro sexo. A mulher, que uma vida mais espontânea, mais fecunda, mais confiante habita, está sem dúvida mais perto do humano do que o homem – o macho pretensioso e impaciente que ignora o valor do que julga amar por não estar preso às profundidades da vida, como a mulher, pelo fruto das suas entranhas. Esta humanidade, que na dor e na humilhação amadurece a mulher, virá à superfície quando esta quebrar as cadeias da sua condição social. Um dia (sinais certos o atestam já nos países nórdicos), a rapariga existirá, a mulher existirá. E estas palavras: “rapariga”, “mulher”, não significarão somente o contrário de “homem”, mas qualquer coisa de pessoal, valendo por si mesma; não apenas um complemento, mas uma forma completa de vida: a mulher na sua verdadeira humanidade.”
In Rainer Maria Rilke “ Cartas a um jovem poeta”, Ed. Contexto, Lisboa , 1994, p-73
In Rainer Maria Rilke “ Cartas a um jovem poeta”, Ed. Contexto, Lisboa , 1994, p-73
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