O que procuro em ti, eco ou planície, que não me respondes? Porque devolves apenas a minha voz?

segunda-feira, 25 de julho de 2016

Dia-a-dia #258

Na praia estou tão zen ao sol e nem ligo: a pessoal que põe música em alto no telemóvel; ou a quem abre a boca só para dizer palavrões; quem usa esse tipo de vocabulário e joga à bola; os grupos de grunhos aos pulos com uma bola à beira-mar; o jogo das raquetes; as bolas que atinguem criancinhas; adolescentes com as hormonas aos pulos que riem e dão gritinhos; fedelhos que entram na água a correr e a chapinhar; adultos que fazem o mesmo e alegremente atiram água uns aos outros; não ligo a quem comenta a temperatura da água comigo e acha estranho não responder; pessoal que não sabe o que é um caixote do lixo apesar de haver vários na zona; que mandam beatas para a areia; não ligo às ratazanas debaixo do chapéu de sol com chapéus de pala entretidas a afiar a língua com a vida dos outros; ou outras ratazanas; camarões e lagostas de importação; as bolas das raquetes; as bolas que atigem qualquer um que passa; a avó aguda que chama o neto na água com o vocabulário apropriado; ratazanas a rosnarem; famílias inteiras aos gritos cujo o pacote inclui os guinchinhos dos mais pequenos; criancinhas que gritam como se as tivessem a matar, mas afinal não aconteceu nada.
Na praia fiquei tão zen ao sol que adormeci, mas não me lembro do que sonhei.

quarta-feira, 13 de julho de 2016

Dia-a-dia#257

Voltei a sonhar que ainda estava nas Belas-Artes nas caves da escultura, vi-me na sala do terceiro ano rodeada de vultos cobertos por sacos de lixo pretos. Com um grupo de colegas discutia qual seria a melhor tecnologia a frequentar nesse ano e houve um que sugeriu ir para os plásticos. Eu fiquei indignada e disse logo que não, nunca mais iria entrar nesse antro sujo, era muito melhor ir para os metais. Vejo lá fora pelos vidros a passar a prof. Virginia com os dois filhos ainda miúdos e faço-lhes adeus. Foi maravilhoso vê-la passar naquele mau ambiente, ainda existem pessoas boas. E nisto estou a modelar uma pequena maquete em cima da mesa, olho para a minha mão esquerda e vejo um prego espetado na palma. Mas como é que isto foi acontecer? Um colega diz que foi por estar a frequentar os metais. Puxo o prego e com ele vem um tubo de sangue e começo a sangrar, pego num pano e embrulho a mão. Pergunto se existe algum sítio na Faculdade com material de primeiros socorros. Dizem-me que isso já foi há muito tempo, houve disso, mas agora já não. Acordo em pânico a pensar que tenho de ir ao meu centro de saúde. Doi-me a minha mão esquerda por causa da sinovite, olho para ela e penso: será que tenho esta porcaria desde os tempos das Belas-Artes?