Já que coloquei aqui uma coisa sobre Évora, lembrei-me do que Miguel Torga escreveu sobre esta cidade – tenham atenção, o Alentejo, segundo o José Régio é Trás-os-montes passado a ferro, o Torga é um homem da Montanha:
“Évora, 14 de Fevereiro de 1942 – Rendo-me. Diante de uma realidade assim, rendo-me, e digo mais: que vale a pena, afinal, haver história, haver arquitectura, e haver respeito por quantos souberam ser antes de nós bichos e poetas no seu casulo. E por isto: porque até hoje, em Portugal, só esta terra me deu justa medida e a justa prova séria e humana pégada que deixaram no seu caminho nossos pais. Para que me surja vivo e sagrado aos olhos o que os meus antepassados fizeram, é preciso que a lição recebida seja ao mesmo tempo testemunho e destino. Ora nenhuma cidade nossa, salvo Évora, foi capaz de me dizer com pureza que eu sou latino, que eu sou árabe, que eu sou cristão, que eu sou peninsular, que eu sou português, - que eu sou a trágica mistura de sangue místico e pagão que faz de mim o homem desgraçado que sabemos.”
In Diário II, Edição do autor, Coimbra 1960, p-27
Há muita gente neste país que não gosta de Torga, que o menospreza e renega. Eu torgo-me todo sempre que os ouço. E lembro-me que este homem nascido algures e para algures emigrado foi-se publicando contra tudo e quase contra todos (não era de Lisboa, nem do Porto, nem de Coimbra, nem de...) num mundo tão próprio e desgraçado como é o mundo de ser alguém num país que é nada.
ResponderEliminarEu leio o Torga desde sempre, o meu pai lia-o e agora sou eu que tenho os seus livros aqui em casa :), gente que menospreza e renega o Torga não interessa para nada. Quanto ao país que é nada, eu gosto do Portugal do Torga, esse sim interessa-me, vou cá colocar uma coisas do Portugal, como diz o meu sobrinho Pedro.
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