O que procuro em ti, eco ou planície, que não me respondes? Porque devolves apenas a minha voz?

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Leituras #8


O post anterior continua, ou seja, o desenvolvimento do ponto de vista de Shere Hite sobre as causas que levam alguns homens a matarem o amor:

A paixão está condenada ao fracasso?
O amor intenso deve acabar obrigatoriamente? O amor apaixonado cria «uma tensão insuportável» que faz com que muitos homens sintam que não pode durar sempre? Esta tensão aparece porque o homem é falso consigo mesmo ou porque realmente não ama a mulher, ou porque sente que a sua vida se desequilibra ao identificar-se demasiado com uma mulher e com as coisas das mulheres, pelo que será finalmente castigado pelo «pai», ou seja, pela sociedade masculina?
Muitas mulheres dizem que os homens seguem um modelo extremamente confuso e irracional. O homem actua com uma paixão inegavelmente real e intensa perante a mulher (tanto sexual como emocional) para logo sair em plena relação amorosa e esconder os seus sentimentos (quase metade de um orgasmo, segundo a opinião de algumas mulheres em As mulheres e o amor). Posteriormente, esse mesmo homem volta, demonstrando paixão mas ao mesmo tempo murmura cinicamente que «depois deverá pagar por isso». Evidentemente, segue-se depois outra ruptura e um adeus definitivo. Muitas mulheres dizem que se sentem «abandonadas» estando ainda seguras de que esses homens as amam, enquanto que os homens dizem «não sentir-se seguros» e não «querer comprometer-se».

Apaixonar-se implica um conflito de lealdades
Quando um rapaz que viveu uma «infância normal» no sistema familiar patriarcal cresce e apaixona-se a sério pela primeira vez, pode sentir que isso é uma bomba opressiva, e com um poder totalmente inesperado; e negativo. Ao contrário da mulher, o homem costuma considerar que estes sentimentos são demasiado intensos para sentir-se cómodo. Dizem que ao princípio o amor parece «natural» e agradável, mas rapidamente algo no seu interior diz-lhes que não pode ser bom, e deixar que uma mulher domine todos os seus actos e os seus sentimentos não é adequado. Quando «se apaixonam», muitos rapazes sentem instintivamente que estão em perigo e que devem sair de alguma maneira dessa situação, por muito prazenteiros que sejam esses sentimentos.
O facto de terem deixado a mãe paralisa-os, traumatiza-os criando neles um sentimento de culpa que faz com que resulte difícil amar e aceitar mais tarde o amor, e causa-lhes conflitos em quase todas as suas relações posteriores com as mulheres (incluindo as laborais) porque sentem culpa e temor ao verem-se «apanhados» no mundo da mulher e da mãe. Tanto os homens como os rapazes tiveram de aprender e aceitar o sistema de descriminação pelo sexo e o lugar que ocupam nele, o seu «direito» a dominar as mulheres e a competir com os homens.
Estes conhecimentos e a recordação dos sentimentos apagam-se à medida que os anos passam, e a sua origem desaparece da mente consciente. No entanto, se se identificam de forma «demasiado próxima» com uma mulher, reaparecem facilmente os antigos sinais de alarme confundindo os sentimentos e a conduta dos homens apaixonados.

In Shere Hite, Informe Hite sobre la familia, Ed. Paidos, Barcelona y Buenos Aires, 1995, p-250 (tradução caseira)

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