O que procuro em ti, eco ou planície, que não me respondes? Porque devolves apenas a minha voz?

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Textos insones #17

Portugal dos pequenitos clandestino

Farol Ilha de raios oblíquos contínuos sequenciais nas estrelas da noite. O barco azul parte de Faro para a Ilha do Farol durante o dia. Ao longe, o farol anuncia com elegância o seu pequeno reino. O barco azul leva-me a caminho de um mistério, quem sabe se um pequeno paraíso perdido no mar. No Farol Ilha tudo gira em torno do mensageiro luminoso no alto, talvez um mensageiro entre dois mundos. De dia, o farol apenas vigia o mar como um deus; de noite, deus transforma-se num silencioso ritmo visual. O farol centra descentrando assim a ilha em feixes luminosos sequenciados. O farol divide a sua ilha em legal e clandestino, na forma de direita e esquerda, pelo menos seguindo as coordenadas da plataforma onde caminho. Em sentido contrário será esquerda e direita, ou seja, clandestino e legal lado a lado. Mas no fundo na ilha do farol, o clandestino e o legal vivem de mãos dadas. O Farol Ilha é o Portugal dos pequenitos estilo clandestino, na continuidade do Raul Lino, em ponto pequeno, português suave marítimo contemporâneo. O outro Portugal dos pequenitos tem muito manuelino. O legal clandestino, ou seja, o clandestino no seu esplendor, tinha que ser uma ilha no mar ao sul, em honra dos estilos importantes da nossa cultura; e tinha de ser uma ilha onde só se pode ir num pequeno barco azul. A diferença entre o legal e clandestino nesta ilha, revela-se apenas na noite, em forma de pequenos candeeiros, ténues globos luminosos, muito baixos, que na rua acompanham os humanos, pontuando apenas, sem competir com deus lá no alto. As ruas são sempre estreitas, escuras e demasiado estreitas na parte clandestina, a areia aperta-as. E deus é muito mais bonito no clandestino, revela-se no azul-escuro estrelado imenso.

O estilo manuelino impera em Tomar, na Batalha ou nos Jerónimos. O Raul Lino povoou especialmente Sintra e está um pouco por todo o país. Quanto ao contemporâneo clandestino, o mais presente no nosso território, nunca o poderia imaginar deste modo, com esta escala demasiado humana, pequenita mesmo, parece a brincar. O estilo clandestino na Ilha do Farol não é um corte com o passado, é uma continuidade do português suave em pequena dimensão, com deus e tudo, vigiando lá no alto. Mas ali não há igreja, só o farol se eleva nos céus em direcção ao sol. De noite, os traços de luz giram em torno de deus dançando, a lua é enorme na praia e o mar prateado.

Postado no Insónia a 29/8/2005

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