AGRADECEMOS
Agradecemos
em júbilo pela oportunidade que nos deram,
estamos reconhecidos aos donos da vida.
e em romaria lhes beijaremos os anéis
nos altares onde estiverem.
nós, os que adoramos viver,
sentimo-nos na obrigação de agradecer.
aos patrocinadores, colaboradores,
a todos quantos nos emprestaram o riso e o ranho,
aos que nos entusiasmaram encorajaram enrabaram e
aos que ainda estão para vir
agradecemos,
a colaboração
ao haxixe de marrocos
à febre de malta
ao vinho da casa
à heroína
que casa com o cowboy
lá para o fim do filme
agradecemos
ao fim do filme
por ter acabado
às sombras da tarde
por fazerem sombra à tarde
aos caminhos d'aldeia
por cheirarem a merda de vaca
ao senhor padre por ser virgem
nem ele sabe a importância que isso tem
nós também não
agradecemos
ao white horse
royal label
aos pudins flan
os maravilhosos momentos proporcionados
à nossa namorada
as incontáveis fodas
e as que demos sem contar
à mulher-a-dias
pela religiosidade com que nos lavou as cuecas
pela afeição com que nos viu crescer
pela idiotice de nunca querer ter sido mais nada
agradecemos
ao presidente da câmara
ter perdido as autárquicas
aos partidos no poder
e aos que ainda nos hão-de vir foder
às sogras tios e primos
a paciência de serem há tantos anos da família
agradecemos
ao sol da praia aos pardais ao ar lavado
e a todos os outros heróis mortos em combate
e imortalizados amortalhados em grandiosas estátuas
muros de betão
agradecemos
aos morcões e aos estúpidos
trissómicos e outros produtos das aberrações cromossómicas
a beleza com que são horríveis
é aí que vemos a infelicidade de que escapámos
é aí que temos a noção do tamanho bonito de existirmos assim
agradecemos
à dor aos sofrimentos inúmeros com que bordamos os nossos dias
porque nosso será o reino dos céus
aos ladrões e às putas
aos corcundas aos paralíticos
pela sensação de imprevisto quando caminhamos na rua
por exibirem conceitos tão próprios de vida
e juramos
passar a cumprimentar toda a gente
estar infinitamente gratos
infinitamente gatos
piolhos porcos morcegos
infinitamente coisos despidos ao frio
vestidos ao sol
saias casacos camisas gabardines de vénus
tanta roupa tanta sobre chãos
corpos galácticos
juramos
estar infinitamente gratos
a todos os casais felizes
uniões duradouras bodas de prata
por demonstrarem o conceito da felicidade emparedada
o valor da paciência
o infinito do esforço
agradecemos
à arte à ciência à história à sociologia
à política à religião
darem emprego a tanta gente
agradecemos
à tecnologia aos motores
pelo mesmo motivo
às fábricas aos computadores
idem
e a tudo quanto faça barulho cheire mal
foda a vegetação os rios os sóis a aragem
porque inevitavelmente somos a favor de uma poluição avançada,
não dessa como nos países de terceiro mundo que é feita
de gente magrinha
feia de ver.
Defendemos uma verdadeira poluição
pesada d'acordo com os padrões europeus
agradecemos
à tropa,
verdadeira escola d'homens
e à escola
tropa de meninos
agradecemos
a cristo marx reich
pela inutilidade prática das suas demonstrações
e agradecemos a todos quantos
fizerem demonstrações cheias de inutilidade prática
terem tido tanto êxito
não nos esqueceremos igualmente dos nossos teóricos
já lhes basta a infelicidade de serem teóricos
de se esquecerem de comer
tudo a bem dos teoremas teóricos
explanações metafísicas
conceitos epistemológicos
não podemos claro deixar de
sentir ternura pelos nosso teóricos
agradecemos
às entidades divinas
a força que nos dão
a garra o querer e o tesão
e agora não agradecemos a mais ninguém
porque vamos comer um bom bife
talvez devêssemos agradecer
à defunta vaca
porque sempre em tudo o que façamos
sem dúvida contraímos
obrigação de comer um bom bife
e foder uma garrafa de verde
o que é um acto poético
de incomensurável estética.
João Habitualmente In "Antologia poética - Carnaval poético"
Agradecemos
em júbilo pela oportunidade que nos deram,
estamos reconhecidos aos donos da vida.
e em romaria lhes beijaremos os anéis
nos altares onde estiverem.
nós, os que adoramos viver,
sentimo-nos na obrigação de agradecer.
aos patrocinadores, colaboradores,
a todos quantos nos emprestaram o riso e o ranho,
aos que nos entusiasmaram encorajaram enrabaram e
aos que ainda estão para vir
agradecemos,
a colaboração
ao haxixe de marrocos
à febre de malta
ao vinho da casa
à heroína
que casa com o cowboy
lá para o fim do filme
agradecemos
ao fim do filme
por ter acabado
às sombras da tarde
por fazerem sombra à tarde
aos caminhos d'aldeia
por cheirarem a merda de vaca
ao senhor padre por ser virgem
nem ele sabe a importância que isso tem
nós também não
agradecemos
ao white horse
royal label
aos pudins flan
os maravilhosos momentos proporcionados
à nossa namorada
as incontáveis fodas
e as que demos sem contar
à mulher-a-dias
pela religiosidade com que nos lavou as cuecas
pela afeição com que nos viu crescer
pela idiotice de nunca querer ter sido mais nada
agradecemos
ao presidente da câmara
ter perdido as autárquicas
aos partidos no poder
e aos que ainda nos hão-de vir foder
às sogras tios e primos
a paciência de serem há tantos anos da família
agradecemos
ao sol da praia aos pardais ao ar lavado
e a todos os outros heróis mortos em combate
e imortalizados amortalhados em grandiosas estátuas
muros de betão
agradecemos
aos morcões e aos estúpidos
trissómicos e outros produtos das aberrações cromossómicas
a beleza com que são horríveis
é aí que vemos a infelicidade de que escapámos
é aí que temos a noção do tamanho bonito de existirmos assim
agradecemos
à dor aos sofrimentos inúmeros com que bordamos os nossos dias
porque nosso será o reino dos céus
aos ladrões e às putas
aos corcundas aos paralíticos
pela sensação de imprevisto quando caminhamos na rua
por exibirem conceitos tão próprios de vida
e juramos
passar a cumprimentar toda a gente
estar infinitamente gratos
infinitamente gatos
piolhos porcos morcegos
infinitamente coisos despidos ao frio
vestidos ao sol
saias casacos camisas gabardines de vénus
tanta roupa tanta sobre chãos
corpos galácticos
juramos
estar infinitamente gratos
a todos os casais felizes
uniões duradouras bodas de prata
por demonstrarem o conceito da felicidade emparedada
o valor da paciência
o infinito do esforço
agradecemos
à arte à ciência à história à sociologia
à política à religião
darem emprego a tanta gente
agradecemos
à tecnologia aos motores
pelo mesmo motivo
às fábricas aos computadores
idem
e a tudo quanto faça barulho cheire mal
foda a vegetação os rios os sóis a aragem
porque inevitavelmente somos a favor de uma poluição avançada,
não dessa como nos países de terceiro mundo que é feita
de gente magrinha
feia de ver.
Defendemos uma verdadeira poluição
pesada d'acordo com os padrões europeus
agradecemos
à tropa,
verdadeira escola d'homens
e à escola
tropa de meninos
agradecemos
a cristo marx reich
pela inutilidade prática das suas demonstrações
e agradecemos a todos quantos
fizerem demonstrações cheias de inutilidade prática
terem tido tanto êxito
não nos esqueceremos igualmente dos nossos teóricos
já lhes basta a infelicidade de serem teóricos
de se esquecerem de comer
tudo a bem dos teoremas teóricos
explanações metafísicas
conceitos epistemológicos
não podemos claro deixar de
sentir ternura pelos nosso teóricos
agradecemos
às entidades divinas
a força que nos dão
a garra o querer e o tesão
e agora não agradecemos a mais ninguém
porque vamos comer um bom bife
talvez devêssemos agradecer
à defunta vaca
porque sempre em tudo o que façamos
sem dúvida contraímos
obrigação de comer um bom bife
e foder uma garrafa de verde
o que é um acto poético
de incomensurável estética.
João Habitualmente In "Antologia poética - Carnaval poético"
http://antologiadoesquecimento.blogspot.pt/2007/05/ia-no-115-com-uma-dor-metafsica-nos.html
ResponderEliminarIa no 115 com uma dor metafísica nos colhões
à procura da morte em diagonal perfeita
a música é a música é a música
disse a tia Gertrudes quando compunha o programa
da máquina de lavar
não me digas que não há beleza no ar que ela tem
essa putinha
sapatos rasos com talas de tortura para a sífilis
nas unhas
e o mugir da bicicleta quando lhe sugam o leite
das tetas gordas
sobre o Popocatepetl em pedaladas à Gino Bartalli-o-Católico
e o cardeal com um osso buço entalado no recto purpúreo
a muralha de urtigas na labareda dos teus olhos travessos
oh meu amor de qualquer dia
ámen disse a gazela fintando o rinoceronte
estúpido hipocondríaco
ámen disse o gatinho no colo do útero
acaso o acaso faz rima com o acaso do acaso?
rima de merda numa sublime exaltação escatológica
e o reviralho da altitude em voracidade alarmante
para a consolação dos mortais e o desconsolo
dos que partiram
maldito seja quem te inventou oh spleen oh letargia
vou-me embora quando a porta rebentar
bom dia
Levi Condinho
Muito bom, agradecida ;)
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