POEMA DE NATAL
Para todos os leitores
do Insónia
Naquele tempo as luzes duravam toda a
noite. Mas faltava-lhes a eléctrica eficácia de
quem chama, vinde todos comprar um souvenir,
reis magros, corretores da bolsa, funcionários
e teleguiadas tias por estrela que conduz aos
mares do sul, cristãos e bronzeados, a minha vida
dava um filme. Nem sabe o que me aconteceu, o
vestido da Senhora não traz instruções de lavagem
e a vaquinha de polietileno engorda sozinha, eu próprio
já não sinto os olhos de tanto ver as luzes acender e
apagar. Mas uma coisa é certa: Jesus se fosse vivo
havia de ter um partido, ler os tops da Fnac e saber
de cor o nome de todos os ministros. Havia de
sair de casa pela porta da frente, cumprimentar
os jornalistas e conceder duas medidas correctivas dos
excessos do capitalismo; depois, no último degrau
levantaria a palma de sua mão direita e os passantes,
subitamente inundados de um fulgor renascido,
estugariam o passo e entrariam no metro, sorrindo,
acreditando um pouco mais no reino
que tarda a ter um fim.
Rui Costa
In Insónia, 18/12/2007 (aqui)
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