Na semana passada a
experiência de estar internada foi muito diferente da primeira vez, pois estive
num Hospital Público em Coimbra. Em vez de um quarto individual fiquei numa
enfermaria com seis camas e lá fora estava um corredor com várias enfermarias.
Não me lembro de acordar no recobro, lembro-me de já estar na enfermaria, de
ver a minha mãe e pedir-lhe para o meu pai ir à farmácia comprar umas esponjas
para colocar nos ouvidos, pois estava imenso barulho. Depois apareceu o Manuel
A. Domingos, que me ofereceu um livro de poemas seus. Quando o meu pai apareceu
com as esponjas para o silêncio, consegui finalmente descansar. No dia seguinte
é que foi pior: apareceu-me um ser antipático à frente, perguntou-me que dor sentia
numa escala de 0-10, ao que respondi 4. O ser informou-me que tinha de me mexer
da cama para ir tomar banho. Ao primeiro movimento, a escala das dores aumentou
vertiginosamente, e disse-lhe para desaparecer da minha frente, que não a queria
ver nunca mais. Nisto apareceu a minha mãe, estava eu lavada em lágrimas a
queixar-me de que não me conseguia mexer. O ser reapareceu e disse à minha mãe
que não podia estar ali àquela hora, as visitas só começavam às 14h. Saíram
então as duas da enfermaria, na altura não sei o que falaram. Depois surgiram
duas auxiliares amorosas que me explicaram como me podia mover e me ajudaram a
sair da cama e sentaram-me numa cadeira de rodas. Apareceu aquele ser outra vez
e disse-lhe algo como deve achar que eu tenho obrigação de saber como isto se
faz, não? Olhe que nunca passei por uma situação destas. E mais uma vez lhe
disse para desaparecer da minha frente, que não a queria ver nunca mais. As
auxiliares levaram-me para a casa de banho e iniciaram a higiene com imenso
cuidado. De vez em quando lá via também o ser com ar de quem comandava as
operações. Nisto desfaleci e lembro-me de acordar no chão e ouvir, não sei se
estaria a sonhar, que talvez eu seria epilética. Estavam várias pessoas em meu
redor. Disse-lhes que não sou epilética, costumo é ter sempre a tensão muito
baixa. Perguntaram-me se costumava desmaiar ao que respondi que a última vez
foi quando saí da consulta médica onde me diagnosticaram o meu problema, e que
ao balcão quando estava a pagar a consulta, desmaie e vomitei sem dar por nada,
foi provavelmente um ataque de pânico. Depois, já deitada na enfermaria
apareceu a minha mãe, contei-lhe o sucedido. Ela contou-me, furiosa, que ontem
lhe tinham dito que poderia lá estar por volta das 11h para falar com a médica
de serviço para obter informações da minha operação, mas que a enfermeira,
aquele ser que detestei, a tinha mandado para a sala de espera lá fora, dizendo-lhe
que alguém depois a ia chamar; e que tinha ficado ali até à hora das visitas e
ninguém lhe tinha dito nada. Como eu sabia o nome do ser, disse à minha mãe
para se dirigir à primeira sala antes das enfermarias, pois estava lá um
administrativo muito simpático e competente em quem se podia confiar. A minha
mãe foi lá fazer queixa do ser horrendo. Ainda me cruzei mais uma vez com o ser
durante esta experiência de combate: ela acordou-me noutra madrugada e
perguntou-me novamente como classificava a dor numa escala de 0-10.
Respondi-lhe 3, porque estava quieta na cama, agora se me movia… Então ela
deu-me dois comprimidos de paracetamol para tomar e respondi-lhe que esperava
pelo pequeno-almoço, porque não engolia aqueles cachuchos em jejum.
O que procuro em ti, eco ou planície, que não me respondes? Porque devolves apenas a minha voz?
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