O que procuro em ti, eco ou planície, que não me respondes? Porque devolves apenas a minha voz?

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Dia-a-dia #138


Na semana passada a experiência de estar internada foi muito diferente da primeira vez, pois estive num Hospital Público em Coimbra. Em vez de um quarto individual fiquei numa enfermaria com seis camas e lá fora estava um corredor com várias enfermarias. Não me lembro de acordar no recobro, lembro-me de já estar na enfermaria, de ver a minha mãe e pedir-lhe para o meu pai ir à farmácia comprar umas esponjas para colocar nos ouvidos, pois estava imenso barulho. Depois apareceu o Manuel A. Domingos, que me ofereceu um livro de poemas seus. Quando o meu pai apareceu com as esponjas para o silêncio, consegui finalmente descansar. No dia seguinte é que foi pior: apareceu-me um ser antipático à frente, perguntou-me que dor sentia numa escala de 0-10, ao que respondi 4. O ser informou-me que tinha de me mexer da cama para ir tomar banho. Ao primeiro movimento, a escala das dores aumentou vertiginosamente, e disse-lhe para desaparecer da minha frente, que não a queria ver nunca mais. Nisto apareceu a minha mãe, estava eu lavada em lágrimas a queixar-me de que não me conseguia mexer. O ser reapareceu e disse à minha mãe que não podia estar ali àquela hora, as visitas só começavam às 14h. Saíram então as duas da enfermaria, na altura não sei o que falaram. Depois surgiram duas auxiliares amorosas que me explicaram como me podia mover e me ajudaram a sair da cama e sentaram-me numa cadeira de rodas. Apareceu aquele ser outra vez e disse-lhe algo como deve achar que eu tenho obrigação de saber como isto se faz, não? Olhe que nunca passei por uma situação destas. E mais uma vez lhe disse para desaparecer da minha frente, que não a queria ver nunca mais. As auxiliares levaram-me para a casa de banho e iniciaram a higiene com imenso cuidado. De vez em quando lá via também o ser com ar de quem comandava as operações. Nisto desfaleci e lembro-me de acordar no chão e ouvir, não sei se estaria a sonhar, que talvez eu seria epilética. Estavam várias pessoas em meu redor. Disse-lhes que não sou epilética, costumo é ter sempre a tensão muito baixa. Perguntaram-me se costumava desmaiar ao que respondi que a última vez foi quando saí da consulta médica onde me diagnosticaram o meu problema, e que ao balcão quando estava a pagar a consulta, desmaie e vomitei sem dar por nada, foi provavelmente um ataque de pânico. Depois, já deitada na enfermaria apareceu a minha mãe, contei-lhe o sucedido. Ela contou-me, furiosa, que ontem lhe tinham dito que poderia lá estar por volta das 11h para falar com a médica de serviço para obter informações da minha operação, mas que a enfermeira, aquele ser que detestei, a tinha mandado para a sala de espera lá fora, dizendo-lhe que alguém depois a ia chamar; e que tinha ficado ali até à hora das visitas e ninguém lhe tinha dito nada. Como eu sabia o nome do ser, disse à minha mãe para se dirigir à primeira sala antes das enfermarias, pois estava lá um administrativo muito simpático e competente em quem se podia confiar. A minha mãe foi lá fazer queixa do ser horrendo. Ainda me cruzei mais uma vez com o ser durante esta experiência de combate: ela acordou-me noutra madrugada e perguntou-me novamente como classificava a dor numa escala de 0-10. Respondi-lhe 3, porque estava quieta na cama, agora se me movia… Então ela deu-me dois comprimidos de paracetamol para tomar e respondi-lhe que esperava pelo pequeno-almoço, porque não engolia aqueles cachuchos em jejum.

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