O post anterior desta série reflectia sobre a produção no ano de 1996 e foi escrito em Outubro, quando estava à espera do resultado da candidatura a Doutoramento nas Belas-artes: entretanto regressei ao jardim de infância e nunca mais peguei no assunto. O regresso tem acordado memórias, talvez por isso nunca mais peguei no portefólio. Agora que estou de férias, dou continuidade ao assunto: no verão de 1996 tive uma excelente experiência fora daquele sítio; a escultora Virgínia Fróis, que tinha sido minha professora no 3º ano, desafiou-me para ir com uma colega trabalhar num telheiro em Montemor-o-novo. Na altura tinha feito desenhos a partir de “As cidades invisíveis” do Ítalo Calvino, executei-os em casa; aliás, a prática do desenho é a actividade mais constante na minha produção criativa. O livro marcou-me devido a ser composto por descrições de cidades imaginárias do Oriente: o que me levou a criar uma espécie de escrita, uma ideografia com referências arquitectónicas. No telheiro, trabalhei ao lado dos operários que produziam tijolos e ladrilhos artesanais, fiz pequenas maquetes em barro, que foram cozidas nos fornos de lenha, junto aos tijolos. Foi uma experiência intensa, sobretudo em termos humanos, o convívio com as pessoas, o dia a dia num espaço de trabalho tão diferente. A Virgínia foi das poucas pessoas positivas que conheci nas Belas, admiro a sua força e persistência. Agora que voltei para lá, reencontrei-a e está igual a si própria, continua com o mesmo sorriso e sempre com uma palavra amiga; existem poucas pessoas assim no mundo e tem sido privilégio voltar a cruzar-me com ela nos corredores frios das Belas.
O que procuro em ti, eco ou planície, que não me respondes? Porque devolves apenas a minha voz?
terça-feira, 29 de dezembro de 2009
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário