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No ano lectivo de 1995/96 resolvi repetir o 3º ano de escultura nas Belas-Artes – visto que no ano anterior tinha tentado fazer uns peões em polyurterano expandido e encolheram de um dia para o outro sem nunca saber porquê. Aproveitei também para frequentar várias tecnologias de escultura e aprender alguma coisa de útil. Os resultados não foram maus, a vida correu-me melhor, continuei de volta do tema “jogos” para construir alguma coisa: executei uns peões em fibra de vidro e consegui fazer um relevo a partir de desenhos antigos, com labirintos de escrita, tornando-os numa maquete de cidade. Se calhar nunca fui, nem serei escultora, apesar de ter passado por essa formação, porque o que me despertava interesse eram esculturas com cor e fazer relevos – os escultores olhavam de lado isso, achavam que são coisas de pintores. Bem, eu comecei por pintar, foi a minha paixão de adolescente e não existe amor como o primeiro. Vejo muitos artistas a tomarem posições dogmáticas em relação ao que se deve ou não produzir hoje em dia, muitos afirmam que a pintura morreu, ou a escultura, que tudo o que é feito à mão é desprezível e antiquado. Normalmente, defendem as novas tecnologias e os meios audiovisuais como as formas de expressão do nosso tempo. No pólo contrário, existem os que têm uma relação nostálgica com o passado, que acham que a pintura, a escultura contém uma aura única e irrepetível e que só se produz lixo com as novas tecnologias. Não concordo com dogmatismos, a pintura, escultura, todas as produções que são formais num sentido corporal não têm de ser vistas como pecados no mundo em que vivemos; e produz-se tanto lixo dessa maneira como no audiovisual, as coisas não valem apenas pelos meios. O que me parece bom hoje em dia é a diversidade de produções e modos de ver, podem existir bons e maus trabalhos tanto em pintura, como em escultura, na fotografia, como na instalação, no audiovisual, na performance. Não sou a favor da política da terra queimada no que diz respeito ao passado histórico, temos muito a aprender com a história de arte, não sou no entanto nostálgica em relação ao passado e sempre detestei o futurologismo progressista. E no meio disto tudo, o que interessa mesmo é fazer, como o mundo não é bom, nem nunca foi, fazer já é qualquer coisa – isto aprendi no antro Belas, com as múmias e os vanguardistas nos extremos.
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e aprendeste
ResponderEliminarmuito bem
aprende-se sempre alguma coisa, nem que seja fazer, mesmo em condições adversas :)
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