Pancada
Terminei o ano de 2008 com uma forte pancada na cabeça, literalmente; o tampo de uma assassina, anciã escrivaninha de cerejeira, que coabita comigo há cerca de 20 anos, caiu-me na cabeça e como tinha a chave no sítio certo, fui parar ao hospital de Sta Maria; levei uns pontinhos, ou nas palavras de quem me atendeu por lá nas urgências, fui suturada. Isto aconteceu nos preparativos para o jantar, os convidados a chegarem e eu com uma toalha ensanguentada na cabeça; a minha irmã Xum que tem uma paciência desgraçada para me aturar, levou-me para as urgências. Sta Maria é um local extraordinário, porque apesar de ser um mundo de gente num edifício impessoal, desumano até, aquilo funciona; sempre que lá vou parar, visto que é o Hospital da minha área de residência, pergunto-me sempre como é que aquilo ainda funciona. Assim foi, atendeu-me um atraente jovem cirurgião que tratou do assunto num instante, comentando comigo que na semana passada também tinha batido com a cabeça num ar condicionado e que um colega o suturou – gostei do termo, é coisa que resolve as pancadas. Cheguei pouco antes da meia-noite a casa, comecei 2009 rodeada de amigos e ainda fui bailar até às tantas da madrugada no Ateneu Comercial de Lisboa. Só no dia seguinte é que contei aos meus pais o acidente, mas eles tinham passado por um bem pior: na rua onde moram em Évora, uma louca meteu na cabeça que a casa deles e do vizinho eram residências universitárias e queria entrar para ver os amigos. Durante o dia, um dos meus irmãos ainda a tentou acalmar, explicou-lhe que não viviam ali universitários. Na noite de 31, ela partiu os vidros das janelas do rés-do-chão da rua, e pegou fogo à garagem do vizinho. O meu irmão é a única testemunha, mas o pai da rapariga já se deu como responsável pelos estragos. Estou contente com o fim de 2008 e sinto que o novo ano só pode ser melhor, porque terminar o ano com uma chave a bater-me na cabeça tem que se lhe diga – e com a casa dos meus pais a ser atacada.
Texto postado no Insónia a 4/1/2009, o ano de 2009 foi intenso, cheio de mudanças de tal modo que tenho dificuldade em fazer algum balanço. Quanto à passagem do ano, ainda não decidi se saio de casa ou fico por aqui sossegada no quentinho.
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