O que procuro em ti, eco ou planície, que não me respondes? Porque devolves apenas a minha voz?

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Dia-a-dia #37

Desde que entrei para o doutoramento que ando absorvida a escrever relatórios, praticando uma escrita descritiva bastante chata. Já aqui me tinha referido às conferências que assisto nas Belas, uma delas era sobre loiras e janelas. Bom, assisti a outra sessão sobre janelas (também ecrãs) do Professor Vítor dos Reis, que foi uma séria reflexão sobre a construção das imagens. Vou deixar-vos alguns apontamentos:

No renascimento a pintura foi uma janela aberta para um qualquer mundo. Alberti em 1435 publicou De Pictura onde afirmou: “ Em primeiro lugar, numa superfície onde irei pintar, desenho um quadrângulo de ângulos rectos do tamanho que eu quiser, o qual considero ser uma janela aberta através da qual observo aquilo que aí será pintado”. A ideia de janela aberta foi, posteriormente, desenvolvida por Leonardo da Vinci, que utilizou o vidro para desenhar, encarando a pintura como uma janela transparente sobre a qual os artistas matericamente actuavam. Assim, as imagens são ficções sobre o mundo real ou sobre um mundo totalmente irreal. A a perspectiva no renascentista criou simulacros da realidade; em italiano significa vista, possibilidade, com origem no latim; segundo Panovsky, a palavra óptica de origem grega, significa ver com clareza, perspectiva óptica será ver com clareza através de; perspectiva óptica será uma janela indiscreta – construção dirigida ao prazer do observador em ver, em espreitar, somos uns voyeurs - e as imagens partiram da janela, delimitada e emoldurada para o ecrã, ao procurarem ser ilimitadas. No período Barroco, a perspectiva foi aplicada aos tectos das Igrejas em grande escala, deixando de ser um modo de representação, passando a ser um modo de ver o mundo. Esta transformação criou um impacto visual e emocional novo no observador, através da ambição ao ilimitado - moldura do rectângulo da janela que permitia ver a imagem na sua totalidade, no Barroco foi substituída por uma difícil determinação da moldura, as imagens tornam-se ecrãs porque deixa de haver limites no campo visual do observador. Em 1900 os irmãos Lúmiere criaram um ecrã com 20m para o cinema, que acrescentou animação, coisas da alma às imagens. O ecrã em grande escala é dinâmico, um impositivo emocional poderoso, pela sua verosimilhança em relação à vida, por ser um mundo de ilusão em movimento. Actualmente, existe também a televisão e o ecrã do computador – janela aberta para o mundo virtual.

Nós somos de facto uns bichos mirones, por isso, escolhi esta pintura de Edward Hooper para acompanhar os apontamentos. Intitulada “ Night window” de 1928, é uma imagem visionária, por ser anterior a “Rear window” (janela indiscreta) de Alfred Hitchcok.

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