O que procuro em ti, eco ou planície, que não me respondes? Porque devolves apenas a minha voz?

sábado, 20 de junho de 2009

Poema #8

AS COISAS

A bengala, as moedas, o chaveiro,
a dócil fechadura, essas tardias
notas que não lerão meus poucos dias
que restam, o baralho e o tabuleiro,
um livro e dentro dele a esmagada
violeta, monumento de uma tarde
por certo inolvidável e olvidada,
o rubro espelho ocidental em que arde
uma ilusória aurora. Quantas coisas,
limas, umbrais, atlas, copos, cravos,
nos servem como tácitos escravos
cegas e estranhamente sigilosas!
Durarão para além do nosso olvido
e nunca saberão que já nos fomos.

Jorge Luís Borges (tradução de Maria da Piedade M. Ferreira)

3 comentários:

  1. ...poema da finitude
    o que fica do imaterial de nossa alma?
    talvez

    @dis-cursos

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  2. O Borges prosador é bem mais lido e louvado do que o poeta (ao menos, no Brasil). E no entanto Borge foi excelente poeta! Fiz até um modesto post sobre o assunto.
    Abraço!

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  3. Jugioli e Jainana, muito obrigada pela visita e comentário.

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