O que procuro em ti, eco ou planície, que não me respondes? Porque devolves apenas a minha voz?

sábado, 27 de junho de 2009

Poema #10

OS MANEQUINS DE MUNIQUE

A perfeição é terrível, não pode ter filhos.
Fria como a respiração da neve, pões um tampão no útero

Onde os teixos sopram como hidras,
A árvore da vida e a árvore da vida

A libertar as suas luas, mês após mês, sem nenhum objectivo.
O fluxo do sangue é o fluxo do amor,

O sacrifício absoluto.
Quer dizer: não há outro ídolo senão eu,

Eu e tu.
Assim, no seu sulfuroso encanto, nos seus sorrisos

Estes manequins dormitam esta noite
Em Munique, a morgue que fica entre Paris e Roma,

Nus e carecas nos seus casacos de peles,
Chupa-chupas de laranja em pauzinhos de prata

Intoleráveis, ocas cabeças.
A neve deixa cair os seus bocados de escuridão,

Não se vê ninguém. Nos hotéis
Mãos estarão a pôr sapatos

À porta dos quartos para que os engraxem com carbono
Neles hão-de amanhã entrar enormes pés.

Ó a domesticidade destas montras,
As rendas de bebé, as folhas verdes de açúcar,

Alemães toscos a passar pelo sono metidos nos seus stolz largos.
E telefones pretos no descanso

A brilhar
A brilhar e a digerir

Emudecidos. A neve não tem voz.

Sylvia Plath (tradução de Maria Fernanda Borges)

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