O que procuro em ti, eco ou planície, que não me respondes? Porque devolves apenas a minha voz?

domingo, 14 de junho de 2009

Poema #2

DOIS CIPRESTES

O que foi atado
na Terra
continua atado
no Céu
e o que foi desatado
na Terra
continua desatado
no Céu
(no Inferno
é ao contrário)
mas o que não chegou
a ser atado na Terra?
Penso em ti
meu marido
não vivemos
no mesmo século
nem na mesma cidade
nunca nos cruzámos
porque não pudemos
procurámo-nos
um ao outro
lavados em lágrimas
a ver os outros
namorarem-se
às três pancadas
eu li o Yoga para grávidas
e o Vou ter um bebé
eram ficção científica
que eu mais apreciava
não aceitei o bolo
em forma de coração
que os rapazes
dão às raparigas
no Tirol
até porque não mo deram
as nossas mãos
no escuro do cinema
e no escuro da noite
não eram para ser
partilhadas
imagino-te morto
cheio de sex-appeal
e eu viva
sem sex-appeal nenhum
um dia morro
como tu
a vida não era isto
nós sabíamos
no Céu há muitas moradas
(para nós um duplex certamente)

Adília Lopes

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