O que procuro em ti, eco ou planície, que não me respondes? Porque devolves apenas a minha voz?

domingo, 10 de maio de 2009

Portefólio #3


O trabalho que fiz em 1993 aconteceu na sequência do anterior: foi um ano produtivo onde participei em duas exposições colectivas com os meus colegas do Ar.Co. Foi também um ano de grandes mudanças: entrei para a primeira turma do curso avançado de artes plásticas, ganhei uma bolsa de estudos para o frequentar. Anteriormente, apenas alguns professores e amigos se interessavam pelo que fazia, mas neste ano, de repente, à minha volta parecia que toda a gente via o que estava a fazer e se interessava, o que nem sempre era muito agradável. No fim do ano de 1992, houve um pintor alemão que visitou o Ar.Co e por lá deu umas aulas – e entusiasmou-se muito com o estava a produzir, nomeadamente, com os diários gráficos que aqui tenho postado. Ele pintava paisagens abstractas e chamava-se Heribert C. Ottersbach, convenceu-me a concorrer ao curso avançado no ano seguinte e assim fiz, fiquei entre os oito finalistas eleitos desta escola de arte. No início do ano lectivo ele voltou para nos dar aulas como

professor convidado: queria seleccionar quatro de nós para uma exposição em Cólonia e mostrou-nos as suas novas pinturas, que eram grupos de imagens fotográficas impressas sobre pequenas telas, depois pintadas e começou a ter uns estranhos ataques de agressividade comigo, porque achava que eu deveria fazer o mesmo, partindo dos meus diários gráficos. Achei tudo muito estranho e continuei na minha, as pinturas dele também tinham imagens referentes à infância, achei que de algum modo os meus livros o tinham influenciado, mas o que eu fazia era com materiais baratos, eram fotocópias pintadas e colagens, imprimir fotografias em tela era algo impensável e muito dispendioso, para além de não estar com grande vontade de pintar, não fazia sentido ampliar aqueles pequenos livros para pendurar na parede. Nunca me dei muito bem com os pequenos poderes de certos homens, tem sido a história da minha vida e houve de facto situações desagradáveis com este alemão, ele acabou por não me seleccionar para a exposição que estava a organizar, visto que eu não cedi e não conseguiu subjugar-me. Aprendi com tudo isto que não é bom trabalhar sobre pressão e que apenas devemos fazer aquilo que achamos que está correcto, temos a primeira e ultima palavra no que produzimos, as acções são nossas, mesmo em situações adversas. Existem muitos homens que encaram as mulheres como seres com mamas que são estúpidos e inferiores, por isso devem estar apenas em posições subalternas no mundo, não nos têm respeito, nunca tive paciência para isso, muito menos para alemães, salvo raras excepções. Mas de facto, no Ar.Co, foi preciso a visita de um professor estrangeiro para começarem a ver com mais atenção o que fazia, os meios em Portugal são muito fechados e têm os seus vícios. Fora isso, também contactei e conheci pessoas muito interessantes, que foram positivas para o que estava a fazer e o ano acabou bem com a exposição dos bolseiros no Ar.co e a do Curso Avançado no Ministério das Finanças, onde apresentei desenhos com textos em forma de labirintos e Quebra-cabeças a preto e branco.

4 comentários:

  1. Gostava tanto de conseguir ler os teus labirintos....
    Beijinho
    Sara

    ResponderEliminar
  2. "devemos fazer aquilo que achamos que está correcto, temos a primeira e ultima palavra no que produzimos, as acções são nossas, mesmo em situações adversas"
    Gostei muito do texto.
    Beijos.

    ResponderEliminar
  3. Graça, obrigada pelo comentário.
    bjs

    ResponderEliminar