O que procuro em ti, eco ou planície, que não me respondes? Porque devolves apenas a minha voz?

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Leituras #13

Continuo de volta da preciosa «Antologia da poesia feminina portuguesa» que adquiri na melhor livraria do mundo; e prossigo com mais uma freira, Soror Maria do Céu, que segundo o poeta António Salvado…nasceu em Lisboa em 1658 e faleceu possivelmente em 1753. Em 1676 professava no Mosteiro da Esperança. Pertencia a uma das mais nobres famílias portuguesas, e seu avô materno foi D. Antão de Almada, um dos conjurados de 1640. Assinou com o criptónimo Mariana Clemência, «religiosa fransciscana no convento da Ilha de S. Miguel», algumas obras de que salientamos «A Preciosa», «Enganos do Bosque», «Obras Várias e admiráveis» (livros, no geral, de contextura alegórica e nos quais se encontram, entremeados, muitos dos seus poemas), «Aves Ilustradas» (curioso livrinho constituído por apólogos e de intenção religiosa didática)." (P-44)


Narciso, gentileza

Tem o Narciso tanta gentileza,
Que na fonte o rendeu sua beleza,
E hoje, por que o conte,
Há Narciso do espelho, e não da fonte.
Homem, que sem concelho,
Como dama te alinhas ao espelho,
O cristal à mulher, a ti o aço,
Abraça o que te é próprio,
Que ser homem e flor está impróprio
Se és belo, procede de tal arte,
Que quem te vê Narciso, te olhe Marte!

Soror Maria do Céu, in António Salvado, «Antologia da Poesia Feminina Portuguesa», Edições do Jornal do Fundão, 1973, p-53

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