Adquiri esta preciosa Antologia da Poesia Feminina Portuguesa já a alguns meses na melhor livraria do mundo e fiquei na altura a saber que António Salvado também organizou outras antologias, entre as quais A virgem Maria na poesia portuguesa, que me deixou uma enorme curiosidade – o senhor livreiro assegurou-me que existe e é muito bonita. Como o mês de Maio é o mês de Maria, vou colocar cá algumas preciosidades desta antologia, começo com Soror Violante do Céu, que segundo António Salvado “… se chamou Violante Montesino, nasceu em Lisboa provavelmente em 1602, e faleceu em 1693. Professou no convento de Nossa Senhora do Rosário em 1630. Antes porém, parece ter composto uma comédia intitulada «Santa Eugénia» (ou «Eufémia») que terá sido representada perante Filipe III de Espanha. Admirada e elogiada por vulgos notáveis do seu tempo, como D. Francisco Manuel de Melo, Manuel de Faria e Sousa, Bernarda Ferreira de Lacerda, mantendo relações intelectuais com o Padre António Vieira, Soror Violante do Céu escreveu, entre outros livros, «Rimas Várias» (publicado em 1646) e «Parnaso Lusitano de divinos e humanos versos» (publicado em 1733), obras onde se encontram os seus melhores poemas.” (p-34)
«Se apartada do corpo...»
Se apartada do corpo a doce vida,
Domina em seu lugar a dura morte,
De que nasce tardar-me tanto a morte
Se ausente d'alma estou, que me dá vida?
Não quero sem Silvano já ter vida,
Pois tudo sem Silvano é viva morte,
Já que se foi Silvano venha a morte,
Perca-se por Silvano a minha vida.
Ah!suspirando ausente, se esta morte
Não te obriga querer vir dar-me vida,
Como não ma vem dar a mesma morte?
Mas se n'alma consiste a própria vida,
Bem sei que se me tarda tanto a morte,
Que é por que sinta a morte de tal vida.
Soror Violante do Céu (1602-1693) in António Salvado, Antologia da Poesia Feminina Portuguesa, Edições do Jornal do Fundão 1973, p-37
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