E a Primavera veio a chover em força, o verde está molhado. Assim nem
estou mal das alergias, já que em caso de sequeiro espirrava por
causa de tudo quanto é belo. E aparecia logo a grande Natália de Andrade.
Por enquanto, vou-me lembrando de Rimbaud, de beber uma cerveja no inferno na
versão Cesariny. E nem posso beber cerveja por causa do gás, das dores de estômago
que provoca. A beleza afinal é amarga. Infelizmente, desde cedo a natureza mostrou-me
isso, não apenas na pele como se costuma dizer, mas chegou a atacar-me os
ouvidos. Porque o que se vê nem sempre é bom de ouvir. O ouvido é o órgão do
medo, já dizia o outro, não me apetece citar mais ninguém. Já basta as
notas-de-roda-pé que escrevi hoje. E tudo começa sempre em dores de cabeça.
Mas a medicina, entretanto, inventa mais umas belas drogas, que funcionam como muletas
invisíveis no dia-a-dia. E o Rimbaud, novamente, a Primavera, o riso do idiota,
chove a valer. E a chave podia fechar o Inverno, uma chave de fendas, esburacada
e generosa. Em vez de ser desbocada, fechava o passado, parava esta chuva e o
sol aparecia. Também conheci o abraço do sol de Inverno e sei que não vai voltar. Vou fechar
a porta à chave para poder dormir descansada. Sei que não posso ter tudo, mas não
é por isso que deixo de ter bons sonhos. Sonhos muito verdes e solarengos, sem
espirros, nem dores de cabeça, com o sabor da cerveja que a drástica não
suporta, dos quais sou acordada pelo riso do idiota. Breves instantes que tento
prolongar no espaço. Espaço interior não me falta, tenho essa liberdade. E o
verde molhado de hoje à tarde cansou-me, deixou-me o cérebro enublado. Já nem
oiço o riso. Boa noite.
O que procuro em ti, eco ou planície, que não me respondes? Porque devolves apenas a minha voz?
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