O que procuro em ti, eco ou planície, que não me respondes? Porque devolves apenas a minha voz?
terça-feira, 31 de março de 2009
No sitemeter #1
Alguém veio parar ao Eco pesquisando no google.br "vidios de como se forma a lua minguante"; é muito bonito, o Eco é sem dúvida lunar, por aqui habita uma gata Lua um bocado snob e a minguante é uma revista on-line de micronarrativas onde tenho colaborado. De qualquer modo, muito obrigada pela visita.
Contos da planície #1
Além Tejo
Mergulho em melancolia sempre que atravesso o Tejo e passo para o espaço, onde o céu não tem tamanho, nem fim. A planície surge em torno da auto-estrada, substituindo o aconchegante pinhal e à medida que avanço em direcção ao sul, o frio seco entranha-se nos ossos, alertando-me de um modo subtil para o facto de estar viva; então, a terra cresce e passa a ser povoada por árvores distantes, cada sobreiro enraizado parece carregar os males do mundo; eles persistem fortes e verticais no seu sofrimento, criando dissonâncias num todo que parece não terminar. A terra e estas escassas árvores contrastam com o azul do céu, onde as nuvens se espalham irregularmente, como se anunciassem uma catástrofe. Observo este espaço que vive de constantes variações lumínicas, as nuvens movem-se com lentidão nos passos, murmurando que tudo se transforma devagar. A beleza nesta planície tem sempre um sabor amargo, e ainda bem que estamos na primavera, porque no verão recuso-me a fazer esta viagem, o amarelo torna-se insuportável. Entusiasmada, resolvo sair da auto-estrada. Lembro-me de um atalho, a estrada de Cabrela, onde quase não se vislumbra fios de electricidade e até os sinais de trânsito são de outro tempo. A estrada é estreita, não tem vivalma, o piso continua em péssimo estado; os buracos avisam constantemente o meu carro citadino que é um apressado; quer chegar sabe-se lá aonde. Depressa ou devagar o destino é o mesmo, todos caminhamos para essa verdade que é a morte; a diferença é que devagar caminha-se com calma, vive-se melhor e aprecia-se com mais atenção o que nos rodeia. Abrando por questões de bom senso; o tempo aqui já é outro, pode-se morrer devagar. Olho a paisagem, onde escasseiam ainda mais as árvores. Agora já foi tudo limpo. Recordo-me deste montado há uns anos atrás, os sobreiros estavam quase todos doentes, os seus ramos cinzentos e despidos morriam de pé a gritar aos céus no meio de uma vegetação de arbustos caóticos. Actualmente, restam apenas alguns; sobrevivem a tudo com elegância. Estão ainda mais solitários, a renascer no luto, que é um modo da morte nos falar em vida.
Sempre que passo o Tejo em direcção ao sul, entro em diálogo com esta paisagem melancólica, ou esta paisagem faz parte da minha melancolia; é a parte da minha alma mais enraizada, um espelho do meu interior. Sou do sul. Apesar de já viver desde pequena em Lisboa, as minhas raízes estão nesta terra pobre, rica, no entanto, em espaço e céu, onde resistem apenas alguns fortes e dramáticos sobreiros. Não sou de Lisboa porque é uma cidade porto, tem aquele Tejo enorme; está próxima do mar, um local de passagem. Sou destas terras a que chamo, ironicamente, terras do além, a outra margem do aquém Tejo que habito nas chegadas e partidas. Chegada e partida para as raízes, chegada e partida para o mundo. Vivo neste constante dilema, sempre em diálogo com esta bela e amarga paisagem, presente em tudo o que faço e sou; mas também sou uma citadina, cresci em Lisboa, passando porém, em criança, grandes temporadas no monte dos meus avós, onde brincava com os meus primos. São memórias sinónimas de liberdade, apesar da tristeza que esta paisagem me provoca; tristeza de não poder voltar ao paraíso perdido, à infância; tristeza de ter crescido perdendo fascínio no olhar, ganhando consciência de que a beleza nestas terras tem um sabor amargo.
Agora que os meus pais se reformaram e resolveram voltar a viver em Montemor-o-novo, venho mais às terras do além para os visitar. Talvez por isso, lembro-me com frequência do monte da Charneca, guardado na memória como um sítio encantado. Passei ali o Natal e as férias da Páscoa até à morte dos meus avós, quando tinha cerca de oito anos. Primeiro morreu o meu avô, doente, e o coração da minha avó aguentou mais um ano. O monte ficou para o meu tio, que se desentendeu com o meu pai nas partilhas e só lá voltei muito depois, já adulta, após a reconciliação. Foi estranho voltar àquele sítio, passados tantos anos: quando entrei na estrada de campo, reconheci o cheiro dos eucaliptos que formam uma espécie de alameda, mas os eucaliptos não eram monumentais. O pátio da entrada era também o mesmo, mas muito pequeno. Os meus primos, no entanto, estavam grandes e os meus tios mais velhos; a minha prima Maria já estava casada, o João tinha entrado na altura para a Universidade e eu estava a estudar canto no conservatório. Fui lá sozinha de carro, por minha livre iniciativa. A casa também estava no mesmo sítio, com a mesma cozinha no lado direito da entrada e a sala com a lareira no lado esquerdo. A mobília era praticamente igual. O corredor que dava para os quartos também lá estava, assim como a casa de banho, mas era tudo pequeno. Nesse dia, o palácio encantado da minha infância ganhou uma escala humana, talvez demasiado humana.
Lembro-me, neste retorno ao monte, de perguntar à Maria pelo Eco, se continuava a existir. Ela riu-se e disse que sim, que estava no mesmo sítio, comentando que ainda se recordava das visitas matinais que lhe fazia. O Eco era um grande amigo, mas apenas eu acreditava que existia. Descobrira-o, então, num dos muros do pátio junto à casa. Todas as manhãs me dirigia para lá, levando um banco que subia para poder sentar-me no muro e chamar pelo Eco, olhando a planície, desolada. A Maria bem tentou convencer-me que era a minha voz, batia num muro de um monte que se via lá muito ao fundo e voltava outra vez. Era o eco da minha voz. Eu continuava a achar que alguém estava ali escondido, alguém a quem chamei Eco, talvez atrás de uma árvore, a repetir o que eu dizia. Então, perguntava: Eco, quem és tu? Porque me respondes assim? Eco, és meu amigo?
Nesse reencontro com o paraíso perdido, olhei de novo o muro junto à casa e dirigi-me para lá; já não foi necessário um banco para o subir, porque era bem mais baixo. Subi-o e sentei-me nele, gritando Eco, ouvindo eco, eco, eco... olhando a planície pontuada por escassos sobreiros. Então, perguntei-me: o que procuro em ti, eco ou planície, que não me respondes? Porque devolves apenas a minha voz?
Publicado em "Da Natureza - 1+9",(coordenação editorial de Sara Monteiro), Fundação de Odemira, Março 2009
Mergulho em melancolia sempre que atravesso o Tejo e passo para o espaço, onde o céu não tem tamanho, nem fim. A planície surge em torno da auto-estrada, substituindo o aconchegante pinhal e à medida que avanço em direcção ao sul, o frio seco entranha-se nos ossos, alertando-me de um modo subtil para o facto de estar viva; então, a terra cresce e passa a ser povoada por árvores distantes, cada sobreiro enraizado parece carregar os males do mundo; eles persistem fortes e verticais no seu sofrimento, criando dissonâncias num todo que parece não terminar. A terra e estas escassas árvores contrastam com o azul do céu, onde as nuvens se espalham irregularmente, como se anunciassem uma catástrofe. Observo este espaço que vive de constantes variações lumínicas, as nuvens movem-se com lentidão nos passos, murmurando que tudo se transforma devagar. A beleza nesta planície tem sempre um sabor amargo, e ainda bem que estamos na primavera, porque no verão recuso-me a fazer esta viagem, o amarelo torna-se insuportável. Entusiasmada, resolvo sair da auto-estrada. Lembro-me de um atalho, a estrada de Cabrela, onde quase não se vislumbra fios de electricidade e até os sinais de trânsito são de outro tempo. A estrada é estreita, não tem vivalma, o piso continua em péssimo estado; os buracos avisam constantemente o meu carro citadino que é um apressado; quer chegar sabe-se lá aonde. Depressa ou devagar o destino é o mesmo, todos caminhamos para essa verdade que é a morte; a diferença é que devagar caminha-se com calma, vive-se melhor e aprecia-se com mais atenção o que nos rodeia. Abrando por questões de bom senso; o tempo aqui já é outro, pode-se morrer devagar. Olho a paisagem, onde escasseiam ainda mais as árvores. Agora já foi tudo limpo. Recordo-me deste montado há uns anos atrás, os sobreiros estavam quase todos doentes, os seus ramos cinzentos e despidos morriam de pé a gritar aos céus no meio de uma vegetação de arbustos caóticos. Actualmente, restam apenas alguns; sobrevivem a tudo com elegância. Estão ainda mais solitários, a renascer no luto, que é um modo da morte nos falar em vida.
Sempre que passo o Tejo em direcção ao sul, entro em diálogo com esta paisagem melancólica, ou esta paisagem faz parte da minha melancolia; é a parte da minha alma mais enraizada, um espelho do meu interior. Sou do sul. Apesar de já viver desde pequena em Lisboa, as minhas raízes estão nesta terra pobre, rica, no entanto, em espaço e céu, onde resistem apenas alguns fortes e dramáticos sobreiros. Não sou de Lisboa porque é uma cidade porto, tem aquele Tejo enorme; está próxima do mar, um local de passagem. Sou destas terras a que chamo, ironicamente, terras do além, a outra margem do aquém Tejo que habito nas chegadas e partidas. Chegada e partida para as raízes, chegada e partida para o mundo. Vivo neste constante dilema, sempre em diálogo com esta bela e amarga paisagem, presente em tudo o que faço e sou; mas também sou uma citadina, cresci em Lisboa, passando porém, em criança, grandes temporadas no monte dos meus avós, onde brincava com os meus primos. São memórias sinónimas de liberdade, apesar da tristeza que esta paisagem me provoca; tristeza de não poder voltar ao paraíso perdido, à infância; tristeza de ter crescido perdendo fascínio no olhar, ganhando consciência de que a beleza nestas terras tem um sabor amargo.
Agora que os meus pais se reformaram e resolveram voltar a viver em Montemor-o-novo, venho mais às terras do além para os visitar. Talvez por isso, lembro-me com frequência do monte da Charneca, guardado na memória como um sítio encantado. Passei ali o Natal e as férias da Páscoa até à morte dos meus avós, quando tinha cerca de oito anos. Primeiro morreu o meu avô, doente, e o coração da minha avó aguentou mais um ano. O monte ficou para o meu tio, que se desentendeu com o meu pai nas partilhas e só lá voltei muito depois, já adulta, após a reconciliação. Foi estranho voltar àquele sítio, passados tantos anos: quando entrei na estrada de campo, reconheci o cheiro dos eucaliptos que formam uma espécie de alameda, mas os eucaliptos não eram monumentais. O pátio da entrada era também o mesmo, mas muito pequeno. Os meus primos, no entanto, estavam grandes e os meus tios mais velhos; a minha prima Maria já estava casada, o João tinha entrado na altura para a Universidade e eu estava a estudar canto no conservatório. Fui lá sozinha de carro, por minha livre iniciativa. A casa também estava no mesmo sítio, com a mesma cozinha no lado direito da entrada e a sala com a lareira no lado esquerdo. A mobília era praticamente igual. O corredor que dava para os quartos também lá estava, assim como a casa de banho, mas era tudo pequeno. Nesse dia, o palácio encantado da minha infância ganhou uma escala humana, talvez demasiado humana.
Lembro-me, neste retorno ao monte, de perguntar à Maria pelo Eco, se continuava a existir. Ela riu-se e disse que sim, que estava no mesmo sítio, comentando que ainda se recordava das visitas matinais que lhe fazia. O Eco era um grande amigo, mas apenas eu acreditava que existia. Descobrira-o, então, num dos muros do pátio junto à casa. Todas as manhãs me dirigia para lá, levando um banco que subia para poder sentar-me no muro e chamar pelo Eco, olhando a planície, desolada. A Maria bem tentou convencer-me que era a minha voz, batia num muro de um monte que se via lá muito ao fundo e voltava outra vez. Era o eco da minha voz. Eu continuava a achar que alguém estava ali escondido, alguém a quem chamei Eco, talvez atrás de uma árvore, a repetir o que eu dizia. Então, perguntava: Eco, quem és tu? Porque me respondes assim? Eco, és meu amigo?
Nesse reencontro com o paraíso perdido, olhei de novo o muro junto à casa e dirigi-me para lá; já não foi necessário um banco para o subir, porque era bem mais baixo. Subi-o e sentei-me nele, gritando Eco, ouvindo eco, eco, eco... olhando a planície pontuada por escassos sobreiros. Então, perguntei-me: o que procuro em ti, eco ou planície, que não me respondes? Porque devolves apenas a minha voz?
Publicado em "Da Natureza - 1+9",(coordenação editorial de Sara Monteiro), Fundação de Odemira, Março 2009
segunda-feira, 30 de março de 2009
Leituras #1
A historiadora Shere Hite é internacionalmente conhecida pela sua investigação na área dos comportamentos psicosexuais e relações de géneros. Autora de diversas obras polémicas como The Hite Report on Female Sexuality (1976), The Hite Report on Men and Male Sexuality (1981), Women and Love - A Cultural Revolution in Progress (1987) ou The Hite Report on the Family - Growing up under Patriarchy (1994) de que estou a ler uma tradução em espanhol. Nos anos 90 a sua obra foi duramente criticada e acusada de falta de rigor científico no uso das estatísticas, por isso Hite deixou os Estados Unidos e foi morar na Europa, adoptando a nacionalidade alemã do seu marido, pianista clássico de profissão. Como podem verificar na fotografia, trata-se de uma mulher lindissima, nem todas as feministas são feias, lésbicas e detestam os homens, como algumas cabeças pensam. Sobre a autora: http://www.hite-research.com/
"Os rapazes recebem centenas de mensagens, sobretudo durante a puberdade, para que «não sejam como a sua mãe, não chorem, deixem para trás as raparigas e não estejam com as mulheres».
Parte das «provas masculinas» consistem em negar a mãe e ostentar o seu desdém e a separação dela. O rapaz pode gostar da sua mãe, mas não pode estar ligado a ela, ter relações sociais com ela ou parecesse-lhe. Se anuncia o seu modo de ser ou mostra que é diferente dela, prova que é verdadeiramente leal ao grupo masculino, o do pai.
Em consequência disto cria-se no rapaz uma espécie de saque emocional que já seria terrível por si, mas que mais adiante tende a piorar durante as suas relações com as mulheres, tal como documentam anos de investigação: a maior parte dos homens carregam sentimentos de «culpa», amor, aversão, desdém, atracção erótica, perda de atracção e confusão sobre se o amor e o sexo estão realmente interligados. Esta confusa combinação de sentimentos que raramente se compreende ou examina a fundo, tende a enevoar as reacções masculinas quando, em adultos, se apaixonam de uma mulher".
in Shere Hite, Informe Hite sobre la familia, Ed. Paidos, Barcelona y Buenos Aires, 1995, p-231 (tradução caseira)
Outro dia um amigo comentava que o desejo de todas as mulheres era serem violadas, eu perguntei-lhe se não era ao contrário, se não era uma fantasia masculina, violar mulheres. Talvez na adolescência lhe tenham incutido esta falsa ideia, durante os cruéis rituais de passagem onde teve de se afirmar como macho, ao integrar-se socialmente no grupo do género a que pertence. A separação física do rapaz da sua mãe, que tem início por volta dos cinco anos de idade, pode deixar feridas profundas. A violência no geral é algo que rejeito e tenho dificuldade em entender a violência física, apesar da Shere Hite me estar a esclarecer muitos fenómenos existentes nos seres humanos.
Parte das «provas masculinas» consistem em negar a mãe e ostentar o seu desdém e a separação dela. O rapaz pode gostar da sua mãe, mas não pode estar ligado a ela, ter relações sociais com ela ou parecesse-lhe. Se anuncia o seu modo de ser ou mostra que é diferente dela, prova que é verdadeiramente leal ao grupo masculino, o do pai.
Em consequência disto cria-se no rapaz uma espécie de saque emocional que já seria terrível por si, mas que mais adiante tende a piorar durante as suas relações com as mulheres, tal como documentam anos de investigação: a maior parte dos homens carregam sentimentos de «culpa», amor, aversão, desdém, atracção erótica, perda de atracção e confusão sobre se o amor e o sexo estão realmente interligados. Esta confusa combinação de sentimentos que raramente se compreende ou examina a fundo, tende a enevoar as reacções masculinas quando, em adultos, se apaixonam de uma mulher".
in Shere Hite, Informe Hite sobre la familia, Ed. Paidos, Barcelona y Buenos Aires, 1995, p-231 (tradução caseira)
Outro dia um amigo comentava que o desejo de todas as mulheres era serem violadas, eu perguntei-lhe se não era ao contrário, se não era uma fantasia masculina, violar mulheres. Talvez na adolescência lhe tenham incutido esta falsa ideia, durante os cruéis rituais de passagem onde teve de se afirmar como macho, ao integrar-se socialmente no grupo do género a que pertence. A separação física do rapaz da sua mãe, que tem início por volta dos cinco anos de idade, pode deixar feridas profundas. A violência no geral é algo que rejeito e tenho dificuldade em entender a violência física, apesar da Shere Hite me estar a esclarecer muitos fenómenos existentes nos seres humanos.
domingo, 29 de março de 2009
sábado, 28 de março de 2009
Retrato #3
Olha bem para mim: achas que existo apenas para te servir quando queres e como queres? Hoje podes disparar à vontade, mas capta bem o instante. Sei que o meu olhar verde te assusta, vejo-te por dentro e por fora; queres-me impor o teu olhar, mas já só te suporto com essa máquina nas mãos; estás convencido que me aprisionaste ao anulares os meus desejos, para o teu corpo os ditar e me manteres assim passiva no teu pequeno reino. Tu tens que ser alguma coisa, talvez o melhor fotógrafo do mundo; agora eu quando nasci já era mulher e o que é que sabes sobre isso? Nunca saberás o que é sentir o outro com o corpo inteiro, nem poderás ver o mundo através dos meus olhos; ainda pensas que dominas todos os meus gestos. Olha bem para mim, capta o instante, vais-me retratar como nunca conseguiste, porque tenho as olheiras mais belas do mundo. Eu estou a sorrir para a tua câmara, o meu corpo brilha como um metal, ontem fundi-me com outro até à loucura; hoje já podes disparar à vontade, repara bem no meu polimento, dá-me a eternidade porque estou feliz.
Esta micronarrativa está em http://www.minguante.com/?num=3
Esta micronarrativa está em http://www.minguante.com/?num=3
sexta-feira, 27 de março de 2009
Retrato #2
Eurico Lino do Vale, Retrato de sombra, Silver and gelatin print, 115x115 cm, 2008
Já era altura de mudar a fotografia do meu perfil, visto que está muito desatualizada e coincidência ou não, o Eurico fotografou a minha sombra no ano passado, imagem muito mais adequada à sombra sonora que por aqui habita nesta casa no tempo. Deixo-vos também a morada para outras sombras. http://linodovale.com.sapo.pt/retratos_de_sombras/pag1.html
Coincidências
Colocaram-me a banda no estômago a 27 de Março de 2006, na invicta freguesia de Cedofeita. Na véspera, quando ia na sua direcção, partindo da Évora natal, tive de passar por Lisboa, porque me esqueci lá dos exames necessários para a operação. Quando cheguei à mística granítica, dei por falta da carteira, larguei-a na capital quando fui buscar os exames. Entrei assim no hospital, sem nenhum documento, sabia o número do meu BI de cor, mas nunca poderia imaginar as consequências da drástica. Entretanto, fui à granítica no dia do seu santo, para comemorar os meus 37 anos, já tinha perdido 24Kg e voltei depois quando já tinha perdido 37Kg. Recentemente, reencontrei-me na sua mística, com a identidade física de 69kg e nasci no São João de 1969, na outra cidade património mundial. Por isto tudo, decidi que o Porto é a minha segunda cidade natal, apesar de ainda não ter renovado o BI, onde continua uma fotografia de há 51Kg atrás.
Hoje comemoro 3 anos de banda drástica, que é uma espécie de banda pop rock no meu interior. Esta micronarrativa está em http://minguante.com/?num=13
Hoje comemoro 3 anos de banda drástica, que é uma espécie de banda pop rock no meu interior. Esta micronarrativa está em http://minguante.com/?num=13
quinta-feira, 26 de março de 2009
Retrato #1
Fica aqui a nova página do Eurico Lino do Vale, autor da fotografia que está no meu perfil, ele viu-me assim em 1998.
http://linodovale.com.sapo.pt/
http://linodovale.com.sapo.pt/
Uma casa no tempo #4
Sala
Entrei às escuras na porta do teu mundo. O som da água que corre invadia o espaço da sala e deste-me a tua mão, abrindo a janela. Mostraste-me como a natureza entrava em tua casa, descrevendo-me com a língua como a vias e amavas. Pediste-me silêncio senão a água caía dos teus olhos. Na tua janela bebi a água que os teus olhos me deram. O riso a iluminar o mundo e os meus lábios a beijarem os teus olhos a sorrir. Perguntaste-me no meu corpo porque sempre te fiz rir. No meu corpo correu a água que corre na água e invadimos o espaço da sala. A tua mão em casa na minha. Entendi como amavas a natureza ao escreveres no meu corpo com a língua e a minha traduzia a escrita. Pediste-me que te contasse os meus sonhos, antes de adormeceres. Acordaste de um sonho onde estávamos os dois em silêncio na tua sala a escrever, lá fora havia um barulho ensurdecedor, estavam políticos que tu odiavas, a multidão da qual fugíamos. Tremias quando te agarrei e abracei como podia. Eu não temia, a minha mão firme em casa na tua. Querias para sempre, mas respondi-te que isso é um romance já escrito. Contei-te que sonhava com o mar, que ele se tornava cada vez mais revolto, com ondas enormes e que tinha de fugir.
Texto publicado na revista Big Ode #3: Fusão, Nov 07/Fev 08 acompanhado da ilustração a preto e branco. Foi escrito a partir de um post do Insónia de 20/8/2005, intitulado "Casa" e publicado sem a ilustração em "Bicicletas para memórias e Invenções", Ed. criativação, Lisboa, Dezembro 2006.
quarta-feira, 25 de março de 2009
Eco
São 3h da manhã e não consigo pregar olho, então, resolvi vir aqui para a máquina e brincar com essa coisa ali ao lado que se chama seguidores, tem piada, coloquei-me como seguidora deste blog, ou seja, estou a seguir-me a mim própria, não serve para nada e é uma grande estupidez.
terça-feira, 24 de março de 2009
Textos insones #1
Pinhais
Olho a página em branco da folha e penso: és apenas papel, eu sou tempo e ânimo, as minhas mãos vão moldar-te e tu serás uma página na minha vida. Entro na página de papel, mas ela movimenta-se como o sol de um novo dia, impenetrável, como a própria vida; esta página de papel pertence a um livro que contém fragmentos da minha existência e leva-me a outras páginas em movimento, onde o sol nasceu e se apagou todos os dias. Sinto o cheiro destas páginas, o cheiro dos pinhais, não sei se são os pinhais na estrada de Setúbal, se são na região de Leiria, mas reconheço este cheiro a liberdade, que me alivia os pulmões e me leva ao desconhecido, a uma nova página adiante. O cheiro dos pinheiros é no entanto longínquo, acompanha esquecimento, é como um pedaço de cortiça num vinho de reserva, que surge num aroma intenso no interior da boca, arranhando a língua quando menos se está à espera; este pedaço de cortiça remete-me para o estado da rolha quando se abriu a garrafa de vinho antigo, com o sabor do tempo no seu corpo. Entro nas páginas de um livro onde escrevi sobre os pinhais nas estradas onde viajei, mas os seus aromas fundem-se no movimento da estrada, as texturas do papel contêm mistérios temporais, não foram apenas as minhas mãos a modelarem estas páginas, elas também me modelaram a mim, com o seu tempo e ânimo. Percorro as páginas de livros que me contam vidas inteiras onde o sol nasceu e se apagou todos os dias, as páginas fundem-se com as da minha própria vida, com o meu esquecimento; estas páginas por vezes voltam a estar presentes através de um aroma que reconheço, não sei bem de onde, ou uma palavra que cai das minhas mãos, ou cai da boca de alguém como um beijo, mas é muito raro acontecer; porque falar nunca é como beijar, mas escrever deveria ser como beijar de forma que a língua se possa fundir com o papel, no seu aroma a pinhais, transformando a matéria em tempo e ânimo, como uma brisa ou um sopro penetrando a própria vida.
Postado no Insónia a 21/2/2006
Olho a página em branco da folha e penso: és apenas papel, eu sou tempo e ânimo, as minhas mãos vão moldar-te e tu serás uma página na minha vida. Entro na página de papel, mas ela movimenta-se como o sol de um novo dia, impenetrável, como a própria vida; esta página de papel pertence a um livro que contém fragmentos da minha existência e leva-me a outras páginas em movimento, onde o sol nasceu e se apagou todos os dias. Sinto o cheiro destas páginas, o cheiro dos pinhais, não sei se são os pinhais na estrada de Setúbal, se são na região de Leiria, mas reconheço este cheiro a liberdade, que me alivia os pulmões e me leva ao desconhecido, a uma nova página adiante. O cheiro dos pinheiros é no entanto longínquo, acompanha esquecimento, é como um pedaço de cortiça num vinho de reserva, que surge num aroma intenso no interior da boca, arranhando a língua quando menos se está à espera; este pedaço de cortiça remete-me para o estado da rolha quando se abriu a garrafa de vinho antigo, com o sabor do tempo no seu corpo. Entro nas páginas de um livro onde escrevi sobre os pinhais nas estradas onde viajei, mas os seus aromas fundem-se no movimento da estrada, as texturas do papel contêm mistérios temporais, não foram apenas as minhas mãos a modelarem estas páginas, elas também me modelaram a mim, com o seu tempo e ânimo. Percorro as páginas de livros que me contam vidas inteiras onde o sol nasceu e se apagou todos os dias, as páginas fundem-se com as da minha própria vida, com o meu esquecimento; estas páginas por vezes voltam a estar presentes através de um aroma que reconheço, não sei bem de onde, ou uma palavra que cai das minhas mãos, ou cai da boca de alguém como um beijo, mas é muito raro acontecer; porque falar nunca é como beijar, mas escrever deveria ser como beijar de forma que a língua se possa fundir com o papel, no seu aroma a pinhais, transformando a matéria em tempo e ânimo, como uma brisa ou um sopro penetrando a própria vida.
Postado no Insónia a 21/2/2006
textos insones
No Insónia foram postados textos em registos muito diversos, de tal modo que estou com dificuldades em arrumá-los, não sei bem como hei-de de o fazer, mas alguns estarão nesta etiqueta que intitulei textos insones.
domingo, 22 de março de 2009
Uma casa no tempo #3
Janela
Nunca sei como se abre uma janela ao pé de ti. Fico desorientada, procuro um cigarro para fumar, não sei o que fazer às mãos, não te quero incomodar com o fumo, preciso de abrir a janela. Tu sorris e abres, dizendo: é aqui. No escuro procuro abrir a janela, resmungando, nunca me lembro onde fica o fecho, não o encontro, não vejo nada. Estamos em andamento, nunca sei onde estou, a tua calma perturba-me, é a calma de quem sabe conduzir e eu não consigo fazer isso. Já tentei, mas perco-me sempre, ou tenho medo de me perder. Hoje surpreendeste-me, mais uma vez. Porque em vez de abrires a janela, acendeste a luz, resmunguei que não era a luz, é a janela. Respondeste-me calmamente: em vez de ser sempre eu a abrir a janela, vais ser tu a procurar o fecho, assim não te esqueces onde está. Ainda fiquei mais desorientada, não encontrava nada com luz, perguntei-te onde é que estava. Estavas a rir e disseste: em frente, por baixo. Lá vislumbrei aquilo e consegui ser eu a abrir . E agora, vou ser sempre eu a abrir a janela?
Texto publicado na revista Big Ode #3: Fusão, Nov 07/Fev 08 acompanhado da ilustração a preto e branco. O texto isolado foi postado no Insónia a 20/8/2005
Uma casa no tempo #2
Porta
Estava escuro. Havia uma porta, entrei quando me deste a mão. A porta situava-se perto do ar de Sintra que conheço tão bem, é húmido, dúbio, sempre misterioso. Agarraste a minha mão em casa na tua porta aberta, finalmente. Porque a porta esteve sempre entreaberta e tinha medo de entrar. A tua mão era suave e firme, por isso entrei na porta onde esperava que terminasse aquele frio húmido de rachar do ar de Sintra, que tão bem conheço. Entrei, seguindo-te no corredor escuro em direcção à tua sala, onde estava a janela aberta para a natureza, que sempre amámos tanto. Da tua janela entrava o som da água que corre na água e continuámos às escuras na chuva da noite, mas na tua mão estava em casa e já não tinha frio.
Texto publicado em "Bicicletas para memórias e Invenções", Ed. criativação, Lisboa, Dezembro 2006 e postado no Insónia a 20/8/2005, a ilustração foi postada a 15/9/2006
sábado, 21 de março de 2009
Uma casa no tempo #1
Da cidade
A água corre na água que cai no chão dos meus pés nas calçadas de pedra das ruas estreitas da cidade; da cidade vem um cheiro intenso a terra molhada nos pés em pedra dentro das muralhas de água que corre na água; na água das ruas calcetadas na cidade estreita ergueu-se uma casa no seu interior; no seu interior habitam as memórias onde percorro a terra com os pés no chão; os pés no chão é uma bela metáfora da cidade na noite a chover com ruas estreitas no escuro; no escuro corre a água que corre no tempo dos pés no meu chão; no meu chão ergueu-se uma casa com paredes de tempo e corredores estreitos como as ruas da cidade branca das muralhas ao longe; ao longe os meus pés percorreram o tempo que corre no tempo em paredes de água calcetadas na pedra; na pedra sinto um cheiro a terra molhada após um verão amarelo; após um verão amarelo cai a água nas ruas estreitas da cidade branca das muralhas; das muralhas digo tempo em forma de pedra na água; na água corre a água que corre no tempo das ruas estreitas na noite; na noite sente-se um cheiro intenso a terra molhada nesta cidade; nesta cidade a água corre na água que cai no chão dos meus pés nas calçadas de pedra das ruas estreitas.
Texto de abertura de " Uma casa no tempo" publicado em "Bicicletas para memórias e Invenções", Ed. criativação, Lisboa, Dezembro 2006 e postado no Insónia a 24/1/2006, a ilustração foi postada a 17/7/2006
Arrumar a casa
Ontem continuei a ler e a guardar o material do Insónia e encontrei textos postados na série fragmentos que vou recuperar para aqui de outra maneira: são texto de prosa poética, que irei reorganizar no bloco " Uma casa no tempo", alguns também foram publicados na antologia de contos dos alunos da companhia do eu - Bicicletas para memórias e invenções, Editação Criativação, 2006 - vou reorganizá-los e acrescentar novos, a casa no tempo vai crescer.
Dia Mundial da Poesia
Antecâmara
Anjo Branco. Infinita figura.
Companheiro impassível. Deserto
De qualquer criatura.
Tocador de instrumentos cinzentos.
Adejante penumbra nos ventos.
És de pedra. Infinita figura.
Se tens voz – a memória te escuta.
Se tens forma – a memória te oculta.
Tocador de instrumentos cinzentos.
Estás nos olhos, nos lábios de alguém
Que te espera e não sabe que tem
Os teus dedos nos seus movimentos.
Natércia Freire
ilustração de MªJoão Lopes Fernandes in AA.VV. "O Livro da Natércia". V.N. Famalicão: Quasi edições, 2005.
Postado no Insónia a 4/5/2006
sexta-feira, 20 de março de 2009
O Plácido e a Lua
Aqui está um texto postado no Insónia a 17/2/2006 que continua actual, as fotografias foram tiradas ontem, ou seja, o romance entre a Lua e o Plácido já dura há três anos:
" O gato Plácido mia à janela para a Lua no frio de Janeiro; só se entendem assim, a Lua com o nariz no vidro fica com ar de contentamento descontente, assiste à serenata com desconfiança; ela não sai de onde está, não confia em gatos vadios, nem vai em cantigas facilmente. O Plácido é um vadio de pelo negro luzidio, quase azul-escuro, que conquistou a vizinhança com os seus miados profundos e olhos de mel. Quando surgiu nos quintais das redondezas estava magro, todo arranhado, era uma sombra de gato. A Luzinha do prédio ao lado tratou logo de o perfilhar, levou-o ao veterinário, deu-lhe abrigo, amor, torradas com manteiga e leite; e o malandro sempre que tomava o pequeno-almoço com a Luzinha, vinha a seguir para a minha porta exigir em tom grave e meloso, biscoitos. Arranjei para Dom Plácido um prato onde lhe dei guloseimas e coloquei nas escadas uma fofa cama para ele poder lá dormir a sesta, acho que foi aqui que o seu pêlo negro azul começou a luzir. A Lua não gostou nada do assunto, nunca o deixou entrar em casa, ficava furiosa; ela é uma finória de raça e gosta pouco que a chateiem; não está para aturar cheiro do gato em todo o lado, quanto mais a presença do Plácido na casa; gosta de o ouvir a cantar, ele é muito afinado, tem uns belos graves, mas lá fora na rua, nada de abusos, se não há arranhão que ferve; a Lua assopra como uma serpente quando abro a porta para ir ter com o Plácido.O Plácido também me conquistou com os seus cantos, mas estou sempre atenta às opiniões da Lua, por isso nunca o deixei entrar; levo-lhe biscoitos fora de portas, ele mia, fica todo contente, rebola-se no chão, tapa um dos olhos com a pata, de barriga para o ar todo satisfeito; mas o gato é um grande sacana, adora seduzir, faz ronrom, roça-se nas minhas pernas, espera que eu me distraia e ferra-me com os dentes, deixando-me num ai!; depois foge como uma flecha, não me dá tempo nem para uma pantufada ou outra coisa qualquer. A primeira vez que isso aconteceu, eu nem queria acreditar, fiquei com um pé inchado, com a marca dos seus dentes. Avisei a Luzinha desta faceta de Dom Plácido e ela achou que o problema era meu, não era com ela. Até que chegou a vez da Luzinha levar uma dentada, e a Pepa, a gata da vizinha levou literalmente uma sova. Agora, a Luzinha quando vai ao quintal leva umas luvas de jardinagem para se proteger das suas dentadas, colocou-o fora de casa, já não tem abrigo, nem pequeno-almoço luxuoso. Só lhe resta a cama nas minhas escadas, os meus biscoitos e o vidro da janela onde canta para a Lua desconfiada. A Lua tem razão, ele não é de fiar, é melhor assim, apesar do frio nas noites de Janeiro".
Do Insónia #2
Ontem à noite começei a ler e a guardar o que está nos arquivos do Insónia - tanta coisa que não passei do ano de 2006, hoje à noite vou voltar ao assunto, talvez consiga chegar a 2007. Ao percorrer os arquivos a memória avivou-se, lembrei-me de muitas situações engraçadas. Reparei também que o material que enviei de algum modo poderá ser reorganizado, reescrito, corrigido e colocado aqui na nova casa - todo o material também não, mas o que se aproveita, depois do filtro do tempo, o que resiste ao tempo. Acho que reorganizar o que fiz poderá ser um estimulo para o funcionamento desta nova casa.
quinta-feira, 19 de março de 2009
Do Insónia
Colaborei no Insónia desde de 2005, foi um espaço de partilha fantástico, onde muitas coisas aconteceram. A melhor de todas foi conhecer o Henrique e os outros colaboradores. Por vezes também me cruzo pessoalmente com leitores e tenho surpresas agradáveis. Ainda não existe distância para fazer um balanço da experiência insone, mas o único paralelo que tenho em relação a ela é a prática da música. Através da música tenho criado ligações amizade muito peculiares e o mesmo se passou com o Insónia. A prática da música une pessoas muito diferentes, assim como a partilha da escrita o pode fazer. Das vezes que me encontrei pessoalmente com o Henrique, o lado mais engraçado foi começar a contar-lhe uma experiência qualquer e ele responder, já sei Maria João, já me contaste e vice-versa. Isso deve-se ao facto lermos quase diariamente os textos um do outro e apesar de sermos pessoas muito diferentes, em gostos e opiniões, respeitamo-nos nas diferenças e a partilha do mesmo espaço foi inefável. Quando o Henrique anunciou o fim do Insónia, fiquei triste, mas entendo que tudo tem princípio, meio e fim. O mais importante é o que está no meio, ou seja, o que foi feito, o que foi produzido, o que vivemos e partilhamos nessa casa virtual que ele criou e onde me senti muito bem. Decidi continuar, mas de outra forma, criando este espaço, uma nova casa no tempo; também irei colocar aqui material que esteve no Insónia, as coisas que fui enviando ao Henrique e outras fresquinhas. Prossigo assim aqui e agora, algo que não seria possível se não tivesse passado pelo Insónia. Obrigada Henrique, saúde para toda a tribo e até já.
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