O que procuro em ti, eco ou planície, que não me respondes? Porque devolves apenas a minha voz?

sábado, 21 de março de 2009

Uma casa no tempo #1





























Da cidade
A água corre na água que cai no chão dos meus pés nas calçadas de pedra das ruas estreitas da cidade; da cidade vem um cheiro intenso a terra molhada nos pés em pedra dentro das muralhas de água que corre na água; na água das ruas calcetadas na cidade estreita ergueu-se uma casa no seu interior; no seu interior habitam as memórias onde percorro a terra com os pés no chão; os pés no chão é uma bela metáfora da cidade na noite a chover com ruas estreitas no escuro; no escuro corre a água que corre no tempo dos pés no meu chão; no meu chão ergueu-se uma casa com paredes de tempo e corredores estreitos como as ruas da cidade branca das muralhas ao longe; ao longe os meus pés percorreram o tempo que corre no tempo em paredes de água calcetadas na pedra; na pedra sinto um cheiro a terra molhada após um verão amarelo; após um verão amarelo cai a água nas ruas estreitas da cidade branca das muralhas; das muralhas digo tempo em forma de pedra na água; na água corre a água que corre no tempo das ruas estreitas na noite; na noite sente-se um cheiro intenso a terra molhada nesta cidade; nesta cidade a água corre na água que cai no chão dos meus pés nas calçadas de pedra das ruas estreitas.


Texto de abertura de " Uma casa no tempo" publicado em "Bicicletas para memórias e Invenções", Ed. criativação, Lisboa, Dezembro 2006 e postado no Insónia a 24/1/2006, a ilustração foi postada a 17/7/2006

3 comentários:

  1. Maria João, cheguei do (da?) Insônia, que no Brasil se escreve e diz assim, com circunflexo, anasalado, fechado, o que talvez lhe dê um som mais próximo da sombria solidão insone. Gosto dos seus textos de lá, vou tentar acompanhar a arrumação deste seu novo site (ou sítio, como se diz em bom português). Abraço!

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  2. Pedro, obrigada pelo teu comentário e ontem começou a Primavera :)

    Janaina, seja muito benvinda!

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