O que procuro em ti, eco ou planície, que não me respondes? Porque devolves apenas a minha voz?

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Dia-a-dia #99


Coisas que só podem acontecer neste sol de inverno: fui comprar cigarros numa tabacaria daquelas de Lisboa em vias de extinção, o dono tem umas fofas barbas brancas, é afável e agradece-me sempre que pago com moedas – as máquinas de cigarros agora também têm umas gravações a agradecer, aliás, as máquinas têm sempre uma voz feminina gravada, porque será? Voltando à tabacaria, pelo caminho, no prédio ao lado, a janela estava fechada e tinha um cortinado branco. Entre o cortinado e o vidro da janela estava uma gata refastelada em posição acrobática – acho que era gata porque tinha três cores, fundo negro com salpicos ferrugem e branco. Parei logo para a observar melhor, estava toda enroscada na sesta, com uma pata sobre os olhos. Nisto, ainda vislumbrei um dos olhos a abrir muito verde na minha direcção, que se fechou de automático e com indiferença. O Sol batia na vidraça, que esperta a bichana, naquele rés-do-chão deveria ser o canto da casa mais quente. E quando entrei na tabacaria, achei que o dono deveria ser parente próximo da gata, talvez o avô felpudo.

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