O que procuro em ti, eco ou planície, que não me respondes? Porque devolves apenas a minha voz?

sábado, 14 de julho de 2012

Poema #85




RESPOSTA DA QUINTEIRA


Mote

Fui apalpar os tomates
Que tinha o meu hortelão,
Mostrou-me o nabal que tinha
Meteu-me o nabo na mão.

Glosa

Sou mestre na agricultura,
Tenho terra para cavar,
Gosto sempre de apalpar
Se a enxada é mole ou dura.
Ser amiga da verdura
Não são nenhuns disparates;
Enchi alguns açafates
De tomateiros de cama,
Depois de apalpar a rama
Fui apalpar os tomates.

As sementes tomateiras
Nascem por dentro e por fora,
Semeiam-se a toda a hora
Dentro de fundas regueiras.
Tão brilhantes sementeiras
Dão gosto e satisfação.
Dentro do meu regueirão
Dão-me as ramas pelos joelhos
Que tinha o meu Hortelão!

Só de vê-los e apalpá-los
Faz andar a gente louca,
Faz crescer água na boca
E a língua dar estalos.
Meu hortelão tem regalos
Tem hortaliça fresquinha;
No vale da carapinha
Tem um tomateiro macho,
Abriu-me as porta de baixo,
Mostrou-me o nabal que tinha.


Tinha grelos e nabiças,
Tinha tomates graúdos
Tinha nabos ramalhudos
Com as cabeças roliças
Tão brilhantes hortaliças
Meteram-me tentação;
Era franco o hortelão,
Deu-me uma couve amarela
Para me dar gosto à panela,
Meteu-me o nabo na mão.

António Maria Eusébio (Calafate) (1820-1911)

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