No ultimo post iniciei o relato sobre a experiência de frequentar durante 6 meses uma escola em Halifax no Canadá: na altura produzi muitos fotogramas a cores de grande formato. O processo de trabalho era aliciante: primeiro desenhava em papel vegetal textos labirínticos e outros desenhos, semelhantes aos que tinha realizado em 1993. Depois, na câmara escura colocava-os sobre papel fotográfico, articulados com vários objectos, expunha-os à luz do amplificador e revelava-os numa máquina para grande formato. No ano anterior tinha feito pequenos fotogramas a preto e branco (máximo em A3), no laboratório que tinha montado na casa de banho de minha casa. Uma das diferenças é que quando se trabalha a revelação num laboratório a preto e branco, existe uma pequena luz de presença e permitia-me compor as imagens, ou seja, escolher em que sitio colocava desenhos e objectos. Nos fotogramas a cor isso não acontecia: porque não se pode ter uma luz de presença na câmara escura, assim, os desenhos de grande formato e objectos eram colocados às apalpadelas sobre o papel fotográfico, que ocupava o chão do laboratório, só via o resultado da “composição” depois de o inserir na máquina de revelação. Assim, cada fotograma era sempre uma surpresa. Alguns deles foram expostos em Dezembro, na exposição colectiva dos alunos de Garry Kennedy, na galeria da escola; mas meu principal objectivo era realizar uma exposição individual com esta enorme quantidade de trabalho quando regressa-se a Portugal – algo que não consegui concretizar. Lembro-me que os guardei num enorme rolo de cartão e que o abraçava no aeroporto e de me terem chateado para o colocar na bagagem, quando estava no check-in; mas não me separei daquele enorme rolo de maneira nenhuma, estava ali a minha a minha paixão, regressei a Portugal abraçada àquele pedaço da minha vida. Mal aterrei, mostrei o trabalho em duas galerias e a resposta foi a mesma: que já estavam a prover outros jovens artistas e aconselham-me a inserir-me nalgum grupo. Passado dois anos mostrei três destes fotogramas numa exposição a convite do Paulo Mendes no CAPC em Coimbra, intitulada “ Zapping Esctasy”: o Paulo colocou-os na sala Ernesto de Sousa, que tem as paredes pintadas de preto, onde também se apresentavam diversos vídeos, o que resultou muitíssimo bem. A exposição foi uma boa experiência, onde conheci e convivi com outros artistas, durante a montagem houve umas animadas refeições. O transporte, a organização e a forma como as coisas decorreram foi boa, excepto no final, onde tive uma surpresa desagradável. Quando a exposição terminou, os trabalhos não me foram entregues de imediato, porque havia a hipótese de haver itinerância, de vir também para Lisboa. Na altura, os fotogramas foram guardados na cave do CAPC, eu confiei que tudo estaria bem e em condições. O tempo passou e nunca mais a exposição vinha para Lisboa. Passado dois anos, resolvi ir ao CAPC pelos meus próprios pés buscar os trabalhos: deparei-me com eles embrulhados às três pancadas, colocaram plástico à volta, mas com a fita na parte da frente e estavam numa cave bastante húmida. Para a exposição, emoldurei-os numas caixas pretas, com vidros acrílicos o que foi bastante caro, devido à dimensão que eles tinham. O acrílicos estavam riscados e ficaram com as marcas de cola da fita, algo que ainda hoje se pode ver nos que estão pendurados nas paredes da minha casa. No entanto, salvei-os daquela cave húmida, fui a tempo antes de se deteriorarem. Aprendi com esta experiência que devemos estar atentos às nossas coisas quando entramos em exposições colectivas, porque podem ser muito mal tratadas. Hoje em dia, os fotogramas que não estão emoldurados encontram-se guardados dentro do meu guarda fato, numa dura capa que fabriquei e assim se têm mantido em bom estado. Talvez um dia consiga expô-los a todos, num espaço como deve de ser, se tiver dinheiro para os emoldurar, vontade e força para o fazer.
O que procuro em ti, eco ou planície, que não me respondes? Porque devolves apenas a minha voz?
sábado, 1 de agosto de 2009
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Porque é que não expões estes trabalhos agora,mesmo já datados?!(Continuam actuais nessa linguagem...)
ResponderEliminarcumprimentos
j.rocha
Obrigada J. Rocha, falta-me animo e dinheiro para os expôr, mas faria mais sentido assim do que estarem guardados no meu guarda roupa.
ResponderEliminarquando estava no check-in; mas não me separei daquele enorme rolo de maneira nenhuma, estava ali a minha a minha paixão, regressei a Portugal abraçada àquele pedaço da minha vida.
ResponderEliminareiiiiiiiiiia
pareces o camoes a salvar os lusidas.
está previsto um ataque de traças para lisboa. cuidado com o rolo
Olá César
ResponderEliminarJá não é um rolo, estão bem guardados numa capa que fabriquei que é à prova de traça ;) o Camões era outra estória, mania de misturares assuntos
beijas para toda a tribo