O que procuro em ti, eco ou planície, que não me respondes? Porque devolves apenas a minha voz?

quinta-feira, 19 de abril de 2018

Dia-a-dia #277

Vinha para casa com os sacos das compras do supermercado e em pleno jardim do Campo Pequeno, neste dia quente, estava um bando de pinguins fardado a rigor, a praxar um grupo de miúdos. O ritual era militarista, o pinguim da colher de pau urrava ordens, os miúdos tinham de fazer gestos iguais, contavam em alto e rematavam com um 'Ai!' uníssono. Aproximei-me e disse-lhes bem alto: "Isso é que é brincar ao fascismo!?!?". Parou tudo. Pousei os sacos no chão, cruzei os braços e fiquei em silêncio a ver se me respondiam. Os miúdos ficaram na mesma posição virados para os pinguins. Os pinguins começaram a bichanar entre eles e elas e com risinhos nervosos. Os miúdos estavam virados em frente, mas espreitavam com os olhos na minha direcção, até o pinguin da colher dizer, num tom baixo, para não ligarem. Encolhi os ombros, peguei nos sacos e abalei. Quando já estava na minha rua recomeçou a parada. Pensei:mas porque é que fui mandar a boca se é igual? Bom, pelo menos tentei fazer alguma coisa.

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