O que procuro em ti, eco ou planície, que não me respondes? Porque devolves apenas a minha voz?

sexta-feira, 15 de novembro de 2019

Poema #128



CASA DA MISERICÓRIDIA
O pai fuzilado.
Ou, como diz o juiz, executado.
A mãe, a miséria e a fome.
a instância que alguém lhe escreve à máquina:
Saludo al vencedor, Segundo Año Triunfal,
Solicito a Vuecencia deixar os filhos
nesta Casa da Misericórdia.

O freio do seu amanhã está numa instância.
Os orfanatos e hospícios eram duros,
mas ainda mais dura era a intempérie.
A verdadeira caridade dá medo.
É como a poesia: um bom poema,
por mais belo que seja, tem de ser cruel.
Não há mais nada. A poesia é agora
a última casa da misericórdia.

Joan Margarit (Prémio Cervantes 2019). «Casa da Misericórdia» (tradução de Rita Custódio e Àlex Tarradellas), Ovni, 2009.p.33.

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