O que procuro em ti, eco ou planície, que não me respondes? Porque devolves apenas a minha voz?

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

Dia-a-dia #271



Ontem fui ver «Se eu vivesse tu morrias» de Miguel Castro Caldas na Culturgest. Uma peça que vive do texto, das várias relações que se estabelecem com um texto. Tudo começou com uma gravação onde se ouvia a leitura da errata do texto da peça, que estava num livro que foi distribuído por quem estava a assistir. Era assim possível ler e ver a peça. Era difícil, tinha os óculos novos na ponta do nariz para ler e como estou com o dobro da graduação no olho esquerdo (literalmente u...m olho virado para a merda outro para o infinito, que as lentes pretendem corrigir) a focagem da leitura e visão do palco era totalmente marada, mas os actores alertavam-me também para os números das páginas. No palco vivia-se a oralidade das palavras que os actores davam corpo na leitura, no livro o texto por vezes encontrava-se impresso ao contrário. Surgiram então momentos onde já não lia o livro, seguia apenas a acção no palco, um enredo composto por um triângulo amoroso, acentuado por projecção de imagens, que também existiam no livro. As personagens eram trágico-cómicas. Na sequência de acções em que a peça se desenvolveu, constantemente a palavra nas suas várias materializações, em texto impresso ou oralizado no corpo dos actores, interpelava a existência, o amor e a morte. Um texto que questionava a acção a decorrer, através do poder das palavras, da sua verdade e falsidade, oscilando entre a crueldade e o lirismo. Gostava muito que o livro que esteve nas minhas mãos durante a peça fosse publicado, se bem que não reproduz de maneira alguma o momento único que foi assistir à peça. Mas pelo menos assim poderia voltar ao texto e também às imagens, ao registo desse momento presente no livro, para poder reflectir novamente sobre as questões eternas da existência, do amor e da morte levantadas naquele momento que vivi.

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