O que procuro em ti, eco ou planície, que não me respondes? Porque devolves apenas a minha voz?
terça-feira, 11 de outubro de 2011
Dia-a-dia #96
Sonhei que o mundo estava em guerra e nós de volta de esculturas. Aliás, tu falavas imenso, coisa rara porque sempre foste de poucas falas; eu estava sobretudo a ouvir-te, coisa rara, porque só oiço até certo ponto. Mas era um sonho. Estava preocupada com uma escultura que tinha modelado em barro, tinha receio de a levar ao forno, achava que não ia sobreviver. Então, contaste-me que fizeste uma enorme almofada quadrada e vermelha por dentro; ela rebentou por causa das bolhas no interior. Ao acordar, tentei dar uma sequência ao que tinha sonhado, mas não apontei logo. Lembro-me de ver o relato do sonho aparecer em forma de texto, mas isso não era o fio da meada. Entretanto, cruzamo-nos hoje de tarde, achei que íamos apenas cumprimentarmo-nos como pessoas civilizadas, mas não, resolveste fazer perguntas, socializar de forma harmoniosa. Não nos cruzávamos já há algum tempo, não te ouvia a voz há uns anos. Tens-te lembrado de mim por causa do fado? Deixei-me disso, não tenho paciência para bater no ceguinho. Foi aos trinta. Trabalhar aqui? Estou a investigar. Pinto pouco, sou corista capista, escrevo pouco, agora só teoria. Livros de poesia gourmet. Se tenho móveis? Não, nunca tive. Lindo? Sim, sei que és poeta – pateta? Vais apontar? Pode-se escrever. O que é bela? Era estranho no fado, mas agora poesia já não é? Não tens Facebook? Também não há pachorra. Morada, o meu nome é enorme, mas é mesmo o meu nome, no caso de não saberes. Não leva til. O til é o infinito? Não, é só metade, é finito. Morada, escrevo o teu nome em alemão. É com dois Ps? Gosto de fado. Não quero ouvir. Pensas em mim por causa por fado? Lembro-me de ti, poesia. Não te contei, hoje sonhei que o mundo estava em guerra e nós de volta de esculturas.
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