O que procuro em ti, eco ou planície, que não me respondes? Porque devolves apenas a minha voz?
segunda-feira, 4 de outubro de 2010
Dia-a-dia #88
Há muito que não reparava num casal especial no Metro: passaram por mim na estação do Marquês. Ambos de estrutura média baixa, não tinham mais de vinte anos; ela branca pálida, magra, cabelo escuro esfregona, óculos de massa pretos, pernas canivetes cobertas por meias de renda com desenhos redondos, por baixo de uns shorts, bem shorts de ganga gastos, ténis e blusa preta; ele louro, mas apenas por fora, penteado à Tintin, montado com gel, trazia uma maravilhosa t-shirt do Super-homem. Vinham de mãos dadas, a mão direita dela na esquerda dele, suponho que ela seria dextra e ele canhoto, o promenor é importante apenas porque o lado esquerdo é o do coração. O lado dele era o do coração de certeza. Compartilhavam o mp3, o dele é claro, ele tinha o pipo no ouvido esquerdo e ela no direito. Aparentemente, assim ligados por um fio branco de uma máquina, só eles sabiam da música que ouviam; ela sorriu, depois e olhou-o de um modo brincalhão. Ele ficou radiante. Atrevo-me a especular que ela seria uma soprano de segunda e ele devido ao gel só poderia ser tenor; como diria o meu maestro « já são muitos anos a virar frangos». Entrei no metro e eles continuaram no seu micro-cosmos, agora sentados lado a lado. Não sei bem o que emanavam aqueles seres, mas quando cheguei a casa vim a correr descrevê-los aqui, para não me esquecer. Seria que emanavam o entusiasmo experimental das cambalhotas? Ou estavam unidos apenas pela música?
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