O que procuro em ti, eco ou planície, que não me respondes? Porque devolves apenas a minha voz?
sexta-feira, 28 de março de 2014
quinta-feira, 27 de março de 2014
domingo, 23 de março de 2014
Dia-a-Dia #208
O 2ºFestival Mal Dito está de parabéns: estive em Coimbra dia 21 e 22, os eventos foram belíssimos e bem organizados. Tudo começou no ano passado com o pequeno grupo de amigos que se juntou em torno da poesia e organizaram o Festival em tempo record, sem apoios institucionais. Este ano manteve-se o espírito, onde a partilha é central e mais uma vez houve público em todos os eventos a que assisti: lançamentos de livros, apresentações e leituras em vários sítios da cidade. Destaco ontem o salão Brasil cheio para o debate com o mote " A música, antes de qualquer coisa", que juntou Adolfo Luxúria Canibal , Bruno Béu e Francisco Amaral em torno da relação entre poesia e música, moderado pelo professor Osvaldo Silvestre. Um dos mais belos momento do festival foi dia 21, no café Sta Cruz à noite: Isaque Ferreira não leu apenas, ele respirou, viveu e encarnou POESIA. Momento inesquecível foi sem dúvida também dia 21, na Livraria Miguel de Carvalho, o lançamento de "Ranço" de Jorge Aguiar Oliveira, publicado pela Companhia das Ilhas: o autor referiu que a sua poesia é autobiográfica e não tem rodriguinhos. E leu o poema "O inútil pirilau de Vanetti Greta" em homenagem a um travesti que trabalhou na associação Abraço, onde o conheceu pessoalmente. O poema foi escrito após saber da sua morte com SIDA. A leitura do autor cortou-me a respiração ou deixou-me sem palavras.
segunda-feira, 17 de março de 2014
Natureza-Morta Social #91
O conceito
“natureza-morta” existe nas línguas latinas, enquanto nas línguas germânicas e
anglo-saxónica, “still-life” se
relaciona com vida: a origem de “still”
é “stend” que significa estar parado.
O poeta Daniel Falb confessou-me recentemente que ao utilizar o conceito “social
still-life” na sua poesia, relacionava-se com o facto de não querer escrever
poesia narrativa, mas procurar escrever “atemporais naturezas-mortas”, que na
sua língua remetem mais para instante vivo. A meu ver, a interpretação que desenvolvi
em torno do tema resultou em imagens que se aproximam mais do sentido “ainda vivo
social”, porque derivam sobretudo de uma reflexão sobre
elementos díspares da actualidade, onde questiono a tradição da cultura erudita
ocidental, ao desconstruir o género “natureza-morta” através da colagem e da
pintura, confrontando-a com outros elementos de proveniências várias, num
processo de metaforização, para interpelar o mundo onde habitamos e questionar
o que somos enquanto espécie humana.
Etiquetas:
da Natureza-Morta Social,
Naturezas-Mortas Sociais
terça-feira, 11 de março de 2014
Dia-a-Dia #207
Quando o sol atravessa
um copo de vinho branco, a sombra reflete-se transparente e luminosa. O branco
é a luz do vinho ou o vinho diurno. Conheço brancos secos e florais, de uma juvenil
alegria inesperada, mas só os aprecio muito frescos em pleno verão. Os brancos
frutados quando são muito bons também refrescam. Dispenso todos os brancos
ácidos, nunca tive estômago para o assunto. Aprecio sim a profundidade de uma
colheita tardia, com o travo das uvas colhidas quase em passa ou vinho doce do
gelo. Numa tarde de verão provei um fresco rosé, com a alegria dum refresco e
só depois lhe senti a graduação tinta. Não confio em rosés, também podem ter
sombras transparentes e luminosas, mas em corpos crepusculares.
segunda-feira, 10 de março de 2014
terça-feira, 4 de março de 2014
Dia-a-Dia #206
As “Vanitas” surgiram como tema do género “natureza-morta”
na Europa do Norte e Países Baixos nos séculos XVI e XVII. A palavra em latim
significa “vacuidade, futilidade”, sendo utilizada como sinónimo de vaidade;
são pinturas que se referem à insignificância da vida terrena e ao carácter
efémero da vaidade. As “Vanitas” são compostas geralmente por caveiras que
representam a morte, associadas a outros elementos presentes nas “naturezas-mortas”,
como instrumentos musicais, frutas, flores e borboletas, simbolizando a
natureza efémera da vida. Por vezes também surgem representadas frutas
apodrecidas simbolizando a decadência, relógios e ampulhetas representando a
brevidade da vida ou um limão descascado que como a vida, pode ser atrativo a
quem olha, mas amargo para quem experimenta. Pintura de Pieter Claesz (1590 -
1661) – “Vanitas com violino e bola de vidro”. Germanisches Nationalmuseum,
Nuremberg.
segunda-feira, 3 de março de 2014
Dia-a-dia #205
A “natureza-morta” é um género
que surgiu com a invenção da pintura a óleo no século XV. Na idade média não
aparecia ainda como género autónomo, apesar de nos manuscritos medievais
góticos, surgirem representações de “naturezas-mortas”. O conceito “natureza-morta”
existe nas línguas latinas, em quanto nas línguas germânicas e anglo-saxónica, “still-life” se relaciona com vida: a
origem de “still” é “stend” que significa estar parado. Em Espanha
foi também utilizado o termo “Bodegó” nas representações de alimentos,
que vem do espanhol “bodegon”, que
significa taberna. “Cesto de Frutas” (1595-96) de Caravaggio foi a primeira
pintura autónoma do género “natureza-morta”: trata-se de um “tromp’oil” representando um cesto de
frutas, como as que surgiram na época, onde esta técnica é utilizada para criar
uma transição entre o espaço do quadro e o observador. Durante o barroco, este
género representou objectos preciosos, loiças, frutas descascadas, com o
instantâneo, onde uma situação ganha uma dimensão infinita através da pintura. Na
Europa do Norte do século XVII, o género desenvolveu-se representando a
abundância, apesar de no geral ser visto como menor pelas academias oficiais:
surgiram as “naturezas com mesa posta”, representações associadas à situação
social da classe média, que estava ligada ao comércio e era mais rica que nos
países latinos. Muitas “naturezas-mortas” tinham um sentido moral acentuado,
usando as representações dos frutos e flores em termos simbólicos, e os
insectos apelando à efemeridade humana. A representação de casulos, lagartas e
borboletas simbolizavam o ciclo de vida e de morte. Tema também frequente nas “naturezas-mortas”
são as “Vanitas”, que se referem à
vaidade, tratando-se de representações onde contrasta o corporal e o
espiritual, representações com a presença de uma caveira e outros objectos
presentes nas “naturezas-mortas”.
Subscrever:
Mensagens (Atom)